Em tribunal militar russo condenou hoje sete militantes de extrema-esquerda a penas entre seis e 18 anos de prisão num processo que oposição e uma organização não-governamental consideram uma nova manifestação de arbitragem do poder face às correntes críticas.Os indiciados, apresentados pela acusação como terroristas “antifascistas” e “anarquistas”, escutaram hoje o veredicto do tribunal militar de Penza (centro), que os condenou a sentenças entre os seis e os 18 anos de prisão.
A decisão “é inesperada e demasiado dura” considerou Olga Gavrilova, advogada de Maxim Ivankin, 25 anos, condenado a 13 anos num campo penitenciário. “Evidentemente, vamos recorrer em apelo, eu e os meus colegas”, disse à agência noticiosa AFP. Os sete jovens, todos nascidos entre 1988 e 1996, foram detidos em 2017 e 2018 por integrarem uma organização considerada “terrorista” pelos serviços de informações e segurança (FSB) e designada “A Rede”.
Alguns dos detidos foram também acusados por posse de armas proibidas e munições, e tentativa de tráfico de droga. Não foi, no entanto, revelado qualquer plano de atentado.Os organizadores do grupo, Dmitri Ptchelintsev e Ilia Chakourski segundo a acusação, foram condenados às penas mais pesadas, 18 e 16 anos num campo penitenciário de regime severo.Segundo a organização não-governamental (ONG) russa de defesa dos direitos humanos Memorial e a oposição, este caso foi montado com diversos cenários para dar a entender a existência de uma ameaça contra o poder.
A Memorial acusou os inquiridores de terem fabricado provas, ao esconderem armas na casa de diversos suspeitos, antes de serem espancados para confessarem que também projetavam promover atentados.”O caso de ‘A Rede’ é um caso de escola. O veredito deve demonstrar à população que existe uma ameaça de terrorismo político efetivo na Rússia (…) e é um recado à juventude: ‘fiquem sentados e não se mexam’!”, denunciou Svetlana Gannouchkina, uma das figuras históricas da ONG.
Segundo a Memorial, o FSB apoiou-se em confissões duvidosas sobre a existência da rede terrorista, obtidas junto de militantes conotados com a extrema-esquerda e detidos num caso de estupefacientes.O principal líder da oposição do Kremlin, Alexeï Navalny, também denunciou as condenações de hoje.”Qualquer ministro do Governo russo é dez vezes mais criminoso e uma ameaça para a sociedade que estes jovens”, reagiu na rede social Twitter, ao denunciar um veredito “monstruoso”.
“São sentenças estalinistas”, denunciou por sua vez na rede social Facebook Kirill Martynov, jornalista do diário da oposição Novaïa Gazeta.Em 2018 e 2019 o Presidente russo, Vladimir Putin, foi interrogado sobre este caso, em particular as acusações de tortura sobre os suspeitos. Na ocasião, referiu que pretendia obter mais informações sobre este caso.
Hoje, o seu porta-voz Dmitri Peskov assegurou que Putin ordenou “uma vez mais que tudo decorra no respeito da lei”.As acusações de terrorismo ou extremismo destinadas a diversos grupos políticos, em particular jovens, multiplicaram-se recentemente na Rússia. Segundo os críticos do poder, as medidas repressivas não se dirigem apenas a organizações violentas, mas também a movimentos da oposição ou religiosos moderados que se demarcam da linha oficial.