O diplomata à frente da União Europeia no Brasil considera que é preciso manter um ambiente político favorável para garantir a validação do acordo Mercousl-UE. Para ele, os congressistas de cada bloco vão analisar não só o conteúdo do tratado, mas também as relações entre os países. Como consequência, avalia que “dificuldades na relação bilateral podem significar dificuldades na ratificação do acordo”.
“É muito importante o ambiente que vamos criar. E é claro que as declarações de uns e de outros, da parte brasileira e da parte argentina e da parte europeia, se vamos fazer uma política de confronto não estamos realmente servindo ao acordo. O acordo estabelece uma relação de proximidade e cooperação entre UE e Mercosul que seria realmente única em nossa relação”, disse o embaixador em conversa com jornalistas nesta terça-feira, 20.
Apesar de admitir que o discurso do presidente Jair Bolsonaro contra algumas autoridades europeias pode ser ruim para a ratificação do acordo, Ybáñez afirma que a postura de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, em relação ao acordo foi bem vista pelo lado europeu em alguns episódios.
Um dos aspectos positivos foi o fato de Guedes e do próprio Bolsonaro terem colocado em dúvida a permanência do Brasil no Mercosul caso o eventual sucessor de Mauricio Macri, o oposicionista Alberto Fernández, vença a eleição no país vizinho. Na visão do embaixador, isso mostra que o Brasil valoriza tanto o acordo que ameaça deixar o bloco caso não seja respeitado pelos argentinos. Outro ponto destacado por Ybáñez foi o fato de Bolsonaro ter comemorado como uma vitória a conclusão do tratado.
Por fim, o embaixador destacou que a UE vê como positivo o fato do Brasil e dos outros membros do Mercosul terem acordado que basta um dos países que compõem o bloco ratificar o acordo junto ao Parlamento Europeu para que a parte comercial tenha validade naquele território.
Ignacio Ybáñez tem buscado autoridades brasileiras para reforçar a importância da divulgação de pontos positivos do acordo Mercosul-UE no País. Ele contou que serão feitas audiências públicas no Congresso Nacional para discutir o tratado, que terá que passar por aprovação do Legislativo para ter validade.
“Existe a importância das duas partes fazerem uma boa explicação do acordo e o que é positivo para cada lado. Falei com autoridades brasileiras e elas concordam que é preciso uma atitude diferente sobre o acordo”, disse.
Ele esclareceu que a etapa de revisão jurídica do acordo só deve ser concluída no início do próximo ano. Só então o tratado poderá ser encaminhado para o Parlamento da União Europeia e para os parlamentos dos membros do Mercosul – composto por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai – para a parte comercial poder ser ratificada.
Alguns pontos da ratificação ainda não estão definidos, entre eles é preciso estabelecer se a parte política do acordo também terá que passar pela aprovação por todos os países-membro da União Europeia ou se bastaria a aprovação do Parlamento Europeu.