Inúmeros exemplos ilustram essa realidade, dentre os quais, destaca-se o movimento desencadeado em dezembro de 2010 conhecido como “primavera árabe”. Os protestos foram incentivados e orquestrados nas mídias sociais e produziram uma substancial mudança na geopolítica. Ressalta-se que os efeitos da revolução repercutiram em todo o globo, ainda que evidenciados em maior escala na Europa.
Observou-se a alternância de poder no Egito, Tunísia, Líbia, Iêmem e Barein, apesar de somente a Tunísia consolidar o processo democrático. No entanto, o maior reflexo para comunidade internacional foi o desencadeamento do movimento na Síria – tendo em vista o surgimento do grupo extremista Estado Islâmico e a resistência de Bashar Al-Assad em deixar o poder.
O processo sírio culminou em uma guerra devastadora, com um grande fluxo de refugiados e, consequentemente, uma crise humanitária. Com efeito, diversos atores internacionais foram envolvidos neste processo. Os governos modularam suas políticas internacionais lastreados no binômio: identidade constitucional e defesa da soberania.
No âmbito europeu, a Alemanha encampou uma política externa receptiva ao fluxo de refugiados, dada a herança cultural de valorização dos direitos humanos advinda da segunda guerra mundial. Noutro polo, alguns países do Leste Europeu (Polônia, Hungria e República Tcheca) se recusaram a receber os refugiados, considerando um risco a soberania nacional. Essa dicotomia evidenciou a divergência de identidade cultural/constitucional no seio da União Europeia e a dificuldade em formalizar uma política externa comum ante a distinção sociocultural.
A política externa adotada por um país decorre da axiologia social consubstanciada na constituição nacional. Com efeito, a crise humanitária dos refugiados Sírios foi enfrentada de forma distinta tanto internamente na comunidade europeia como pelos demais atores do globo.
A primeira década do milênio indicou um fortalecimento da União Europeia, com a circulação do Euro como moeda oficial da maioria dos países. O próximo passo parecia claro: a unificação hegemônica do continente. No entanto, a dicotomia supracitada representa uma nova fase da União Europeia, onde os problemas socioculturais revelam-se como novos desafios a serem superados.