A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) participou entre os dias 08/05 a 17/05 da missão brasileira organizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Ministério das Relações Exteriores (MRE), e que poderá abrir mais espaço para o suco de laranja nacional no mercado chinês. Em paralelo às negociações do governo brasileiro, o diretor-executivo da entidade, Ibiapaba Netto, esteve reunido com entidades locais que mostraram intenção de apoio aos pleitos brasileiros, o que pode acelerar os entendimentos. “O governo tem feito a parte dele, que é levar o assunto para discussão com o governo chinês e nós temos feito a nossa construindo alianças locais”, explica Netto.
“Estivemos reunidos com a Associação Chinesa de Bebidas, que representa mais de 80% de toda a indústria local e com Câmara Chinesa de Comércio de Importação e Exportação de Alimentos e estabelecemos uma agenda que, ao que tudo indica, será muito importante para sensibilizar Pequim”, diz.
O tema em questão é a chamada “tarifa de temperatura”, um gatilho que é disparado caso o suco chegue à aduana chinesa numa temperatura mais quente dos 18 graus Celsius negativos. “A tarifa de importação literalmente dispara de 7,5% para 30%, o que é muito ruim”, explica o diretor.
Segundo ele, isso inviabiliza investimentos em terminais locais para receber o produto a granel, que é entregue entre 8 graus Célsius negativo e 10 graus Célsius negativos no caso do Suco Concentrado (FCOJ) e zero graus e 2 graus positivos para o suco em sua diluição natural (NFC). Atualmente, as vendas são realizadas por navios containers, com o suco embarcado em tambores.
“É importante que as empresas tenham a opção de exportar a granel e essa mensagem foi levada ao governo chinês por nós e pelo governo brasileiro, o que envolve a possibilidade de investimentos”. Os chineses têm demonstrado especial interesse pelo suco não concentrado (NFC). “Esse foi o principal assunto em todos as nossas conversas com as entidades locais, temos muita lição de casa para fazer para os próximos meses, mas estamos animados”, afirma.
Exportações em queda
As conversas acontecem num momento apropriado, visto que as exportações de suco de laranja continuam em queda. As exportações brasileiras totais de suco de laranja (FCOJ equivalente a 66º brix) apresentaram queda de 14% no décimo mês da safra 2018/2019 (período que compreende os meses de julho de 2018 até abril de 2019) se comparado ao mesmo período da safra anterior.
No total, foram exportadas 806.957 toneladas de FCOJ equivalente, ante as 941.419 toneladas do período anterior. Em faturamento, os embarques somaram US$ 1,4 bilhão, 13% menos que na temporada passada, quando as exportações somaram US$ 1,7 bilhão.
Para a União Europeia, principal destino do suco de laranja brasileiro, as exportações no período totalizaram 531.016 toneladas, 5% menos que nos 10 meses da safra passada, quando o volume foi de 558.704. A queda no faturamento caiu 3%, somando US$ 989 milhões ante US$ 1 bilhão faturados entre julho de 2017 e abril de 2018.
Os Estados Unidos, segundo mercado mais relevante para o suco de laranja brasileiro, importaram 173.678 toneladas nos 10 meses da safra 2018/2019, volume 32% menor que o registrado na safra anterior, que foi 256.220 toneladas. O faturamento foi de US$ 305 milhões, 33% menos que os US$ 454 milhões obtidos no mesmo período da safra anterior.
As exportações para o Japão nos 10 meses da safra 2018/2019 totalizaram 36.083 toneladas, 11% menos que o volume embarcado no mesmo período da safra anterior, 40.669 toneladas. Em faturamento, os embarques somaram US$ 71 milhões, 10% menos que a soma das exportações no mesmo período da safra anterior, US$ 78 milhões.
Já para a China, os embarques de suco de laranja somaram 27.825 toneladas, uma queda de 8% em relação ao mesmo período da temporada passada, quando as exportações somaram 30.133 toneladas. O faturamento alcançou US$ 56 milhões, uma redução de 6% em relação aos US$ 61 milhões na safra passada. “O consumo na China está em, aproximadamente, 130 mil toneladas com um consumo per capita de apenas 0,3 litro ano”, diz. Se esse consumo aumentar para 0,9 litro/ano o mercado viverá um novo ciclo virtuoso”, analisa Netto. O consumo chinês é apenas 12 mil toneladas/ano a menos do que a Alemanha, que é segundo maior mercado para o suco de laranja brasileiro, atrás apenas dos Estados Unidos com 570 mil toneladas ano.
Suco concentrado (FCOJ)
Nos 10 meses da safra 2018/2019, para todos os destinos, os embarques de suco de laranja concentrado congelado (FCOJ) totalizaram 573.154 toneladas, uma queda de 20% em relação às 712.862 toneladas exportadas no mesmo período da safra 2017/2018. O faturamento somou US$ 1,07 bilhão, 16% a menos que nos 10 meses da safra 2017/2018, quando a movimentação financeira foi de US$ 1,28 bilhão.
A União Europeia importou 390.346 toneladas de FCOJ, 8% abaixo das importações do mesmo período da safra passada, que somaram 424.771 toneladas. O faturamento com as exportações brasileiras para o bloco somou US$ 730 milhões, 5% menos que os US$ 767,4 milhões.
Para os Estados Unidos as exportações de FCOJ caíram 50%, somando 80.640 toneladas. Nos 10 meses da safra passada, as indústrias brasileiras haviam exportado 162 mil toneladas, impulsionadas pelo pelos efeitos do furacão Irma. O faturamento também caiu 50% e somou US$ 138 milhões ante US$ 274 milhões do período anterior.
Diluição natural (NFC)
Já os embarques de NFC (suco não-concentrado, equivalente a 66º brix, para fins estatísticos) continuam em alta. Entre julho de 2018 e abril de 2019, as exportações desse produto aumentaram 2% saindo das 228.557 toneladas em 2017/2018 para 233.803 toneladas na safra atual. O faturamento com o NFC, porém, caiu 0,4% e somou US$ 426,5 milhões. No mesmo período da safra anterior, esse valor era de US$ 428,4 milhões.
Para a União Europeia, as exportações de NFC, nos 10 meses da safra 2018/2019, totalizaram 140.670 toneladas, 5% acima das 133.933 toneladas embarcadas no mesmo período da safra passada. O faturamento foi de US$ 259,4 milhões, 5% superior aos US$ 248 milhões obtidos no período de julho de 2017 a abril de 2018.
Já as exportações de NFC para os Estados Unidos nos 10 meses da safra 2018/2019 caíram 1% com 93.038 toneladas, ante as 94.241 toneladas no período anterior. O faturamento caiu 32, somando US$ 173,6 milhões ante os US$ 256,2 milhões. “Mais uma vez, a tendência segue se confirmando, com uma nítida preferência pelo suco não-concentrado em relação ao concentrado”, diz Netto.