A Embaixada de Cuba no Brasil negou, nesta terça-feira (7), que o país caribenho mantenha tropas militares na Venezuela como forma de apoiar o governo de Nicolás Maduro. Segundo os diplomatas, a alegação é uma “vulgar calúnia” para justificar a ampliação dos embargos norte-americanos contra os dois países.
Em entrevista, o encarregado de negócios de Cuba no Brasil, embaixador Rolando Antonio Gomez González, classificou o agravamento do embargo EUA-Cuba (leia mais abaixo) como “genocida” e “colonialista”, mas evitou críticas diretas ao presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump na política continental.
“Nós não desejamos ventilar publicamente nossas diferenças. O governo brasileiro e o Itamaraty conhecem perfeitamente as opiniões de Cuba sobre este tema [Venezuela]. Sabemos que há alguns países que se deixaram levar pela calúnia. Muito poucos, na realidade”, disse.
Na última sexta (3), o Grupo de Lima – que apoia o autodeclarado presidente venezuelano Juan Guaidó – convidou o governo cubano a somar esforços na negociação para a crise no país. González afirma que Cuba está aberta a debater soluções pacíficas, não militares e não intervencionistas, mas diz não saber se alguma reunião já foi agendada nesse sentido.
Embargo econômico
O embargo econômico imposto a Cuba pelo governo norte-americano desde 1960 ganhou novos contornos no início deste mês, quando Donald Trump ativou duas clásulas da Lei Helms-Burton, aprovada em 1996. Até então, esses trechos tinham aplicação suspensa.
Na prática, eles permitem que cidadãos norte-americanos que tenham sido prejudicados na expropriação das propriedades em Cuba, há mais de 50 anos, processem na Justiça dos EUA as empresas multinacionais que atuaram (ou ainda atuam) no mercado cubano.
Esses processos podem pedir tanto o ressarcimento pelas propriedades tomadas, quando a rejeição dos vistos dos executivos dessas empresas para entrada nos EUA. A União Europeia condena a ativação das cláusulas, que ameaçam sobretudo empresas do setor de turismo.
Segundo González, essas e outras medidas – como o encerramento dos serviços consulares dos EUA em Havana – “punem todos os cubanos e suas famílias, tanto em Cuba quanto nos EUA”. O país latino diz, no entanto, garantir a segurança dos investimentos estrangeiros.
“O governo cubano reitera aos parceiros econômicos brasileiros, e às empresas estrangeiras e brasileiras que operam em Cuba, todas as garantias para investimentos estrangeiros e projetos conjuntos.”
Relação Brasil-Cuba
Questionado, o encarregado de negócios evitou fazer críticas diretas ao governo Bolsonaro ou às novas diretrizes da política internacional brasileira. Disse que as diferenças políticas são “conhecidas”, mas que o diálogo institucional está mantido.
“Temos uma relação de harmonia com o governo brasileiro no plano comercial, com os empresários privados. Cuba vê no Brasil um mercado extremamente importante, e temos comprado no Brasil um número muito importante de itens. Cerca de 150 empresas têm relação comercial direta ou indireta com Cuba. Encorajamos que esses nexos comerciais sejam ampliados”, diz González.
Ao mesmo tempo, o embaixador demonstrou preocupação com o fim de algumas garantias e seguros que respaldavam a relação comercial. Segundo ele, de 2017 para cá, o número de bancos brasileiros que intermediavam esse comércio caiu de 12 para 1.
“Há avisos claros de que não há crédito e seguro para esses exportadores. Estamos falando de produtos alimentares, de grandes quantidades. Evidentemente, isso tem um impacto desfavorável. Mas Cuba procura uma maneira de acomodar nossos interesses comerciais a esta nova situação”, afirma.