Embaixador José Antônio Kinn Franco recebe convidados para lembrar e pedir apoio à campanha Día del Mar. Na Bolívia, em diferentes regiões, foram realizados eventos em comemoração à data.
Súsan Faria
Desde 1879, ano em que os territórios costeiros da Bolívia no oceano Pacífico foram arrebatados pelo exército chileno, os bolivianos têm uma luta permanente pela recuperação de uma saída pelo mar. Assim, o embaixador iniciou seu discurso lembrando a história iniciada há 140 anos que deixou sua nação inconformada e cujas manifestações a respeito se repetem ano a ano. Em Brasília, o Día del Mar foi realizado na sede embaixada da Bolívia, no dia 22 de março, Dia Mundial da Água, criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Estiveram presentes embaixadores e representantes do corpo diplomático.
“É uma luta justa e inesquecível. Foi assim há mais de 100 anos e seguirá assim os anos que sejam necessários”, afirmou o embaixador, destacando que não só os bolivianos acreditam que é justo terem a saída pelo mar, como também a comunidade internacional e até mesmo o povo chileno e grandes lideranças e personalidades mundiais. “Temos recebido inúmeras expressões de solidariedade e apoio a causa boliviana”, comentou.
Diálogo – O embaixador José Antônio Kinn destacou que a Bolívia acredita no diálogo para resolver a questão com o Chile e lembrou que a água tem de ser uma parte importante, de primeira ordem no debate mundial. “O acesso à água e ao saneamento na Bolívia – como direito humano – assim como o dever do Estado na gestão integral da água tem sua origem nas diferentes lutas e reivindicações sociais que tiveram no princípio do século”, explicou o diplomata. Disse que a Constituição da Bolívia, em seu artigo 16.1, diz que toda pessoa tem o direito à água e à alimentação. “O Estado boliviano impulsiona a diplomacia da água como uma ferramenta de prevenção de conflitos, gestão e cooperação entre os Estados, através de soluções coletivas”, explicou.
Em La Paz, no sábado, 23, o presidente Evo Morales disse que enquanto existir um boliviano, “nunca desistiremos de ter um mar com soberania”. Em outubro de 2018, a Corte Internacional de Justiça, em Haia, Holanda, sentenciou que o Chile não está obrigado legalmente a negociar o acesso soberano da Bolívia ao mar, em resposta a demanda apresentada pelo governo de Evo Morales. Apesar disso, o presidente boliviano chamou uma vez mais o Chile para ter um diálogo bilateral a fim de solucionar a demanda do seu país.
Perdas – A saída para o mar implica em maior segurança para a Bolívia, bem como a possibilidade de se ter um porto marítimo e facilidades para importação e exportação. A Bolívia perdeu para o Chile 431 km de saída pelo mar, durante a guerra do Pacífico, de 1879 a 1884. Além de ampliar o acesso ao mar, houve interesse do Chile – com apoio da Inglaterra – em dominar terras ricas em metais, sobretudo salitre. Antofagasta, Tocopilla e Kalama, entre outras terras bolivianas passaram ao domínio chileno.
Atualmente, mais de 80% das exportações e importações dos bolivianos são transportadas nos portos do norte chileno. Presidentes e ex-presidentes de países como o Brasil, EUA, Argentina, Uruguai, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Argentina, Paraguai, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Espanha, Cuba e México; e personalidades como o jogador Diogo Maradona, o escritor Eduardo Galeano, os papas Francisco e João Paulo II e o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel apoiam a causa boliviana.