Comex do Brasil
Os Emirados Árabes Unidos querem investir no setor agrícola privado do Brasil. Foi o que disse nesta segunda-feira (10) o vice -primeiro-ministro do país, Mansour Bin Zayed Al Nahyan, ao embaixador do Brasil em Abu Dhabi, Fernando Luís Lemos Igreja, durante sua passagem pelo estande brasileiro na feira de alimentos Sial Middle East, realizada na capital dos Emirados. Nahyan descerrou a placa de inauguração do espaço do Brasil na mostra, que tem 14 empresas expositoras. Na foto acima, encontro de Nahyan e Igreja.
A autoridade falou sobre o interesse dos Emirados na produção brasileira de alimentos dos quais seu país necessita e também em distribuí-los a outras regiões. Segundo Igreja, Nahyan enfatizou o interesse em parcerias com o setor privado. O Brasil e os Emirados negociam um acordo de facilitação de investimentos que poderá ser assinado em 2019 durante visita de uma autoridade do país árabe ao Brasil, algo que ainda será confirmado, segundo Igreja. Esse acordo deve incentivar os investimentos.
O embaixador acredita que o país árabe possa ter interesse no Brasil em setores como carnes, soja e frutas. Igreja vê muito potencial nessa relação comercial, e um dos fatores é a possibilidade de os Emirados serem um entreposto para levar os produtos brasileiros a outras partes do mundo, como Ásia e Costa Oriental da África.
Igreja afirma que o acordo de facilitação de investimentos tem negociação bastante avançada e que os grandes entraves que poderiam haver já foram superados. “A questão é aguardar o momento correto”, diz ele sobre a conclusão e a assinatura. O embaixador acredita que esse acordo aumentará a confiança do investidor dos Emirados no Brasil e vice-versa.
Segundo o diplomata, o Brasil é um dos grandes fornecedores de alimentos dos Emirados. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira mostram que o Brasil teve receita de US$ 1,8 bilhão com exportação ao país árabe de janeiro a novembro deste ano, e vendeu principalmente carne de frango, açúcar, minério e carne bovina. O Brasil comprou US$ 458 milhões dos Emirados, principalmente em combustíveis e fertilizantes.
“O Brasil é visto pelos Emirados como um grande celeiro, fundamental para a segurança alimentar deles”, disse Igreja. O embaixador acredita que o país árabe também reconhece a importância do Brasil no mundo como ator nas relações internacionais.
Igreja acredita que os dois países estão num momento muito bom do relacionamento bilateral. Ele lembra a isenção de vistos que entrou em vigor neste ano, a assinatura de um acordo para evitar a bitributação, também realizada em 2018, e as negociações avançadas tanto para o acordo de facilitação de investimentos, como de outros, em cooperação jurídica, triangular (envolvendo um terceiro país) e em extradições. “A entrada em vigor do acordo de supressão de vistos foi um marco no relacionamento”, disse Igreja.
Em julho deste ano, Brasil e Emirados realizaram a primeira reunião do seu mecanismo de consultas políticas, e em outubro o país árabe recebeu o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Blairo Maggi, em sua feira da área agrícola Agriscape, em Abu Dhabi. O ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello esteve nos Emirados como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. “Foi um ano muito profícuo de contatos e amadurecimento das relações”, avaliou o embaixador.
Além de trabalhar pelas relações do Brasil e Emirados na área política e comercial, a embaixada realizou vários eventos junto à comunidade brasileira nos Emirados, estimada em torno de 10 mil pessoas. “É uma comunidade participativa, ativa, próxima, engajada”, disse Igreja. A embaixada atuou para colocar o Brasil na cena cultural dos Emirados. Em novembro, Reco do Bandolim e o grupo Choro Livre fizeram show em Abu Dhabi, organizado pela embaixada, e Igreja quer manter esse tipo de iniciativa em 2019. “Mostrar para eles toda riqueza da nossa cultura”, afirmou.
O Brasil está atualmente em processo de preparação para participar da Expo 2020, exposição mundial que Dubai sediará a partir de outubro de 2020 até abril de 2021. Igreja ressalta que o Brasil já tem o seu projeto de pavilhão definido e que o trabalho pela participação brasileira só tende a ir crescendo de agora até o início da exposição.
Além desta iniciativa, Igreja vê como focos em 2019 o aumento do comércio do Brasil com os Emirados, que caiu em 2018 em função do menor preço do açúcar, a realização da visita de uma autoridade do país árabe ao Brasil e a assinatura dos acordos negociados. “Paralelamente vamos manter nossa programação cultural, o apoio da embaixada, do Itamaraty e da Apex-Brasil ao setor privado brasileiro”, disse ele, ressaltando também a parceria da Câmara Árabe neste trabalho. “É nossa parceira constante”, afirmou Igreja.