Ana Cristina Dib
A valorização do real frente ao dólar nos últimos dois anos levou a uma estabilidade da importância das exportações para a indústria brasileira. A participação das vendas externas no valor da produção da indústria ficou estável em 15,7% a preços constantes, no acumulado de julho de 2017 a junho de 2018, na comparação com todo o ano de 2017. No mesmo período, a participação dos importados no consumo brasileiro passou de 17,1% para 17,5%, a preços constantes. Os dados são do estudo Coeficientes de Abertura Comercial, divulgado nesta quarta-feira, 12 de setembro, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Além do coeficiente de exportação e do coeficiente de penetração de importações, o estudo, feito em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), traz ainda o coeficiente de insumos industriais importados e o coeficiente de exportações líquidas.
Desde o final de janeiro de 2018, o real iniciou movimento de desvalorização frente ao dólar, o que estimula as exportações e desestimula as importações, mas ainda é cedo para esse efeito se fazer presente nos coeficientes. Nesse sentido, a economista da CNI Samantha Cunha prevê mudanças para os próximos meses: “O efeito do câmbio sobre as exportações e as importações tende a ser defasado, ele leva um tempo para aparecer. Então, até o final do ano, esperamos um aumento da competitividade das exportações brasileiras em razão da desvalorização do real que estamos observando desde o final de janeiro de 2018”.
O estudo alerta ainda que o cenário de maior instabilidade, tanto no plano externo, quanto no ambiente doméstico, gera incerteza sobre a receita e reduz o efeito positivo sobre as vendas externas. “A política de juros norte-americana gera pressões sobre as moedas das economias emergentes, com destaque para a Argentina, um importante parceiro comercial do Brasil. No plano interno, incertezas ligadas principalmente ao quadro político contribuem para maior volatilidade cambial”, explica Samantha Cunha.
Setores
No acumulado em 12 meses – até junho de 2018 -, o coeficiente de exportação da maioria dos setores da indústria de transformação apresentou redução ou estabilidade. As maiores quedas frente a 2017 foram nos setores de metalurgia, veículos automotores, farmoquímicos e farmacêuticos e alimentos.
O desempenho do setor de máquinas e equipamentos destoa do observado para o agregado da indústria: “O coeficiente de exportação do setor de máquinas e equipamentos mantém trajetória de crescimento desde 2015. Na comparação com 2013, ano de seu menor percentual desde o início da série em 2003, o indicador cresceu de 11,6% para 19,1% no acumulado em 12 meses (findo em junho de 2018)”, destaca o estudo.
O coeficiente de penetração das importações, que mede a participação dos produtos estrangeiros no consumo nacional, cresceu na maioria dos setores, especialmente em outros equipamentos de transporte (reboques, aviões, navios), produtos diversos (como brinquedos e jogos, bijuteria e similares), máquinas e equipamentos, vestuário e acessórios, farmoquímicos e farmacêuticos e produtos de metal. “Apenas dois dos 23 setores da indústria de transformação (coque, derivados do petróleo e biocombustíveis e Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos) registraram queda do coeficiente de penetração de importações”, informa o estudo.
Veja a seguir um resumo de como estão os quatro indicadores, segundo dados do último estudo Coeficientes de Abertura Comercial da CNI:
1) Coeficiente de exportação:
O indicador cresceu de 12,2% para 15,9% entre 2014 e 2016, e manteve-se estável em 15,7% no acumulado de 12 meses até junho de 2018. Ou seja, a indústria de transformação brasileira exportou 15,7% da produção, mesmo percentual registrado no acumulado de janeiro a dezembro de 2017. O Coeficiente de Exportação mede a participação das vendas externas no valor da produção da indústria de transformação. Quanto maior o coeficiente, maior é a importância do mercado externo para o setor.
2) Coeficiente de penetração de importações:
O indicador cresceu de 17,1%, em 2017, para 17,5%, a preços constantes, no acumulado de 12 meses, até junho de 2018. Isso significa dizer que, entre todos os produtos consumidos no país no período, 17,5% foram importados. Apesar da instabilidade cambial, o indicador manteve a trajetória de crescimento iniciada em 2017, após ter caído por três anos consecutivos. Quanto maior o coeficiente, maior é a participação de importados no mercado interno.
3) Coeficiente de insumos industriais importados:
A exemplo do coeficiente de penetração de importações, o coeficiente de insumos industriais importados também continua um movimento de alta iniciado em 2017, mas com menor intensidade. O coeficiente cresceu de 23,1%, em 2017, para 23,4%, no acumulado de 12 meses até junho de 2018. O indicador mostra a participação dos insumos industriais importados no total de insumos industriais adquiridos pela indústria de transformação. Quanto maior o coeficiente, maior é a utilização de insumos industriais importados pela indústria.
4) Coeficiente de exportações líquidas:
O coeficiente de exportações líquidas da indústria de transformação a preços correntes, caiu de 6,5%, em 2017, para 6,1% no acumulado de 12 meses até junho de 2018. O indicador reforçou o movimento de queda iniciado em 2017, após crescer por dois anos consecutivos. O coeficiente mostra a diferença entre as receitas obtidas com as exportações e as despesas com a importação de insumos industriais, ambos medidos em relação ao valor da produção. Se o coeficiente é positivo, a receita com exportação é maior do que os gastos com importações de insumos industriais.