Ana Cristina Dib
Terceiro principal parceiro comercial da Argentina, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, o Brasil acompanha com expectativa os acontecimentos no país vizinho, que aguarda para breve a antecipação de parte do empréstimo de US$ 50 bilhoes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e vive o pior momento da gestão do presidente Maurício Macri.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC),de janeiro a agosto, a Argentina foi o destino final de 7,28% das exportações brasileiras, uma alta de 1,11%. O intercâmbio com o país vizinho proporconou ao Brasil um superávit de US$ 4,28 bilhões nos oito primeiros meses do ano.
Analistas de comércio exterior afirmam que o atual momento econômico e político vivido pela Argentina causa alguma apreensão mas também revelam que “ainda não há motivo para pânico”. Até porque, mesmo diante de um cenário de austeridade que, certamente, levará a uma queda do consumo interno, o país vizinho tende a fechar 2018 com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1% e 2%. E se o aporte de recursos do FMI for concretizado como o esperado, prevêem esses analistas, isso dará maior credibilidade sobre a capacidade de pagamentos por parte da Argentina ainda que isso custe caro à população e ainda careça de estratégias para retomar o crescimento.
E se existe um setor na economia brasileira que acompanha ainda mais atentamente o desenrolar dos fatos na Argentina, esse segmento é o da indústria automobilística. E há fortes motivos par que isso aconteça. Afinal, os automóveis respondem por quase metade das exportações para os portenhosQuanto ao impacto sobre o Brasil que exporta para a Argentina, principalmente, automóveis, – o correspondente à quase metade da pauta de exportações e com u e têm uma participação de 75% sobre as vendas das montadoras para todo mundo
Apesar de manifestar preocupaçao com o quadro na Argentina, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) Antonio Megale, expressou a expectativa de que seja encontrada uma saída positiva para o país vizinho.
Segundo Antonio Megale, “se o governo argentino for bem-sucedido nessas negociações com o FMI, vai conseguir conter essa maior volatilidade. A gente imagina que o mercado argentino possa se estabilizar nos próximos meses. O país precisa de lastro para conter os ataques especulativos do câmbio”, avaliou.
Por enquanto, conforme informou, a desaceleração desse mercado, para onde seguem 75% das exportações do setor, seguido do México (7%), está sendo compensada pelo bom desempenho do consumo doméstico e também pela exploração de novos nichos entre os quais estão os negócios com os russos. Porem, o grande desafio do setor para diversificar a sua clientela, são os investimentos tecnológicos em pesquisa e desenvolvimento.
Segundo Antonio Megale, no início do ano havia uma previsão de enviar para o país vizinho entre 900 mil a um milhão de veículos, mas este número deve cair para algo entre 700 mil e 800 mil. Pelo acordo comercial em vigor até 2020, nessa parceria, a troca de mercadorias é livre de impostos. A cada 1 US$ exportado, é possível importar o mesmo valor sem impostos.
Por outro lado, o presidente da Câmara de Comércio Brasil- Argentina, Federico Antonio Servideo, informou que desde abril, quando começou a ficar mais forte a crise cambial, vem ocorrendo uma desaceleração da atividade econômica, que levou a um recuo das encomendas do Brasil. Na previsão dele, deve ocorrer uma queda média em torno de 20% nas encomendas argentinas nesses últimos quatro meses de 2018.
De acordo como executivo, o ambiente é bem diferente do registrado no começo do ano. Só no setor da indústria automobilística, os argentinos tinham comprado 36% mais no primeiro trimestre comparado a igual período do ano anterior. Agora, no entanto, “a capacidade de consumo das famílias argentinas vai ser, significativamente, afetada pela crise cambial e pelas medidas de contenção de despesas e da taxação sobre as exportações”.
Em defesa de Macri, ele destaca que além da herança de problemas macroeconômicos do governo anterior, o atual presidente enfrentou quebra de safras e só não pode adotar as atuais medidas antes para evitar um sofrimento maior à população. “Quando ele assumiu, havia 30% da população vivendo abaixo da linha de pobreza”.
Os respingos dessa desaceleração econômica já podem ser notados quando se compara o desempenho das exportações brasileiras para a Argentina no acumulado de janeiro a agosto, aponta o economista Clemens Nunes, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo.
Nesse período, segundo ele, houve queda de 1,11%, enquanto durante todo o ano de 2017, houve um crescimento de 30% sobre 2016. “ A Argentina é um grande destino da produção da nossa indústria e um dos impactos importantes vai ser, principalmente, o setor industrial exportador”, disse.