Déficit pode chegar a US$ 1,6 bilhão neste ano, primeiro saldo negativo desde 2002
O Globo
A crise na economia argentina já começa a afetar a balança comercial brasileira. Em julho, as exportações para o país vizinho caíram 27,4%, segundo o Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Os principais produtos atingidos pela recessão dos vizinhos foram automóveis, veículos de carga, tratores, semimanufaturados de ferro e aço, máquinas para terraplanagem, óleos combustíveis, ônibus e autopeças.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, se nos sete primeiros meses deste ano o Brasil tinha um superávit de US$ 3,9 bilhões com os argentinos, o resultado deverá ser deficitário no segundo semestre. Ele projeta um saldo negativo de cerca de US$ 1,6 bilhão na balança bilateral Brasil-Argentina em 2018. Seria o primeiro déficit desde 2002.
— O resultado das exportações para a Argentina continuará sangrando até o fim do ano, o que fará com que o superávit vire déficit — afirmou.
Em julho, o Brasil exportou US$ 1,151 bilhão para a Argentina e importou do país vizinho US$ 951 milhões, o que resultou em um superávit favorável ao lado brasileiro de US$ 200 milhões. No mesmo mês do ano passado, o saldo foi positivo em US$ 799 milhões.
Outro dado que chama a atenção na balança comercial é a queda na participação da manufaturados na pauta de exportações brasileiras, de 39,4 em julho de 2017 para 31,7% no mês passado. Esse recuo teve relação direta com a crise na Argentina, que é a principal compradora de bens industrializados do Brasil e vive momentos de desvalorização cambial e desaceleração do crescimento.
Até o mês passado, a Argentina era o terceiro principal comprador de produtos brasileiros, atrás apenas de China e Estados Unidos. A partir de julho, os argentinos passaram à 4ª posição, perdendo lugar para Cingapura. José Botafogo Gonçalves, ex-embaixador brasileiro em Buenos Aires e membro do conselho do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), ressaltou que a crise argentina vai reduzir a capacidade do país de importar do mundo todo, inclusive do Brasil. A área que será mais afetada, em sua opinião, é a de automóveis.
— Não há uma intenção deliberada da Argentina de reduzir as importações do Brasil,. Os argentinos ainda não superaram sua crise de crescimento — afirmou Botafogo.