Por Ali Kaya Savut, Embaixador da Turquia no Brasil
Em 15 de julho de 2018, a Turquia comemora o segundo aniversário de uma tentativa de golpe frustrada. Os turcos ainda lutam para superar o trauma dessa ameaça existencial ao seu país. Os perpetradores desse terrível golpe de Estado consistiam, de fato, nos discípulos de Fetullah Gülen, um homem que se auto-intitula “Imã do Universo”. Eles usaram equipamento militar letal contra civis inocentes que tomaram as ruas para defender suas instituições democráticas. Os golpistas usaram aviões de combate para bombardear o Parlamento e o Complexo Presidencial, em um esforço para reprimir a resistência contra eles, além de tentarem assassinar o presidente e o primeiro-ministro. Naquela noite, eles tiraram a vida de 249 cidadãos turcos e feriram mais de 2.000 pessoas.
Durante a tentativa de golpe, crimes que representam violações massivas dos direitos humanos foram cometidos pelos conspiradores. Mas, turcos de todas as origens e visões políticas, deram um exemplo histórico de solidariedade, ao permanecerem abnegadamente diante dos tanques e reivindicarem seus direitos democráticos. Todos os partidos políticos, tanto do governo quanto da oposição e os elementos não infectados das Forças Armadas, da Polícia e da mídia se opuseram aos golpistas. Ainda naquela noite, era óbvio que Fetullah Gülen e seus seguidores estavam por trás dessa tentativa sangrenta. Seu desejo era assumir o controle do Estado e reinstituir o regime de acordo com seu espírito religioso pervertido. A FETO (Organização Terrorista Fetullah Gülen) é uma organização terrorista da nova geração que se baseia em hipocrisia, ocultação e sigilo.
Para entender por que Fetullah Gülen e a FETÖ se tornaram o inimigo número um na Turquia, é preciso compreender a magnitude de suas ações e o trauma resultante dessas ações que a nação turca vivenciou. Tudo começou sob o pretexto de um esforço por educação beneficente, é preciso enfatizar esse aspecto porque é exatamente isso que essa organização está fazendo em muitos países. Infelizmente, não pudemos decifrar o seu lado sombrio mais cedo. Eles se disfarçaram de um movimento benigno de educação, quando começaram a campanha de criação de escolas na Turquia e depois em todo o mundo.
Casos judiciais em andamento em diferentes províncias em relação aos perpetradores, trazem à tona os compromissos mais obscuros da organização. A Declaração do Estado de Emergência, que chegará ao fim em breve, foi necessária para mover os órgãos do Estado de forma rápida e eficaz. Com certeza, podem ter havido erros e aplicações excessivas ao longo do caminho mas, o governo turco está empenhado em corrigí-los. Os turcos estão determinados a lutar contra a FETO respeitando os princípios do Estado de Direito, moral e democracia. Enquanto isso, lutam também contra organizações terroristas mais brutais como o PKK e o DAESH(ISIS).
Nos últimos dois anos, o governo turco fez progressos significativos na luta contra a FETO. Aumentar a conscientização da opinião pública mundial sobre a ameaça representada pela FETO encoraja as autoridades estrangeiras a tomar as medidas administrativas e judiciais necessárias contra elementos estrangeiros dessa estrutura. A FETO segue em todos os países onde está presente, a mesma estratégia implementada na Turquia. A FETO utiliza redes escolares, bem como ONGs estabelecidas por eles para aumentar sua influência econômica e política para realizar suas atividades ilegais.Estamos diante de uma organização, com aspirações globais de poder e dominância. A FETO está presente em mais de 150 países, inclusive no Brasil. O que aconteceu na Turquia é uma lembrança do que essa organização é capaz de fazer em outros países.
Hoje na Turquia é dada extrema atenção à manutenção do equilíbrio entre as liberdades e as necessidades de segurança, observando suas obrigações internacionais. Os recursos administrativos e judiciais internos, incluindo a Comissão de Inquérito, existem para revisar as medidas para aqueles que afirmam terem sido acusados injustamente.
Um Estado que sofreu imensamente com uma tentativa de golpe há dois anos parece curar rapidamente suas feridas e tenta levar os responsáveis perante a justiça, ao mesmo tempo que se esforça ao máximo para defender os princípios universais dos direitos humanos.