Renato Mosca
Em poucas linhas, apresento um resumo que deve atiçar o seu interesse por conhecimentos adicionais sobre este país europeu que acaba de completar 25 anos de independência.
A Eslovênia está tão bem posicionada no centro da Europa que isso lhe rendeu muitas dores de cabeça no passado, em que esteve sob domínio de sucessivos impérios. O último deles, o Austro-Húngaro, desapareceu na Primeira Guerra Mundial, permitindo a formação de um reino e, em seguida, de uma república que reuniu os povos eslavos do Sul, a Iugoslávia, nossa velha conhecida. Por décadas sob o comando de Belgrado (hoje Sérvia), a Eslovênia sempre foi a mais industrial das ex-repúblicas iugoslavas.
Nos anos 1990, os acontecimentos históricos do pós-queda do muro de Berlim varreram os regimes do Leste europeu e levaram de roldão a República Socialista Federativa da Iugoslávia. A Eslovênia largou na frente, promoveu seu plebiscito, redigiu sua Constituição, lutou por sua independência e formou um novo Estado, sem que tardasse o reconhecimento de seus pares.
Essa república parlamentar, que tem presidente e primeiro-ministro, logrou, nos primeiros anos de vida autônoma, acolher sua vocação euro-atlântica, tornando-se em pouco tempo parte da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 2004, da zona do euro e da área Schengen (2007) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2010. Sendo, evidentemente, membro das Nações Unidas (1992), os eslovenos não hesitaram em pôr em marcha seu bem definido projeto nacional e estabelecer uma política externa com interesses regionais, internacionais e multilaterais com base na primazia do direito, na convivência pacífica, no desenvolvimento sustentável, na defesa do meio ambiente e dos direitos humanos e na promoção da ciência, da tecnologia e da inovação, princípios muito convergentes com os do Brasil.
Trata-se de um pequeno território, que nada tem a ver com a grandiosidade do povo. Tampouco se trata de uma grande economia, mas esta cresceu 4,7% em 2017, a terceira maior taxa de crescimento da Europa. Nesse mesmo ano, a inflação foi de 1,7%, e o desemprego, de 6,4%. É, além disso, o terceiro país europeu e o décimo-terceiro no mundo em qualidade de educação fundamental. Os sistemas educacional e de saúde alcançam todos os cidadãos com eficiência e qualidade. O sistema de transporte já é, como dizemos no Brasil, de “primeiro mundo”, mas tem recebido constantes investimentos, como a ampliação do porto de Koper e a duplicação de linhas ferroviárias para o escoamento de produtos em direção à Europa central e balcânica.
A atenção com o meio ambiente é um traço desse povo que adora estar em contato com a natureza. Liubliana foi a capital verde da Europa em 2016, e o país está recoberto de florestas e belas paisagens naturais. Como o Brasil, o turismo é diversificado por suas montanhas, praias, resorts termais, cidades históricas, cavernas e ruínas arqueológicas. A culinária tem influência da redondeza, mas conserva originalidade, simplicidade e sabores próprios. Os vinhos competem com os similares de vizinhos mais famosos e reconhecidos.
Após o impacto da crise financeira de 2008, a Eslovênia tem recuperado estabilidade econômica e política nos últimos anos, o que vem permitindo maior projeção do país. São cada vez mais frequentes e numerosas as empresas eslovenas, como Gorenje, Elan, Alpina, Seaway e Pipistrel, que se destacam entre as melhores do mundo. O mercado interno esloveno é pequeno, mas o país é porta de entrada para a Europa Central e do Sudeste por intermédio de Koper, um porto moderno e competitivo que tem capacidade de processar produtos brasileiros e distribuí-los por toda a região.
Nosso intercâmbio comercial é significativo, de US$ 466 milhões em 2017, historicamente superavitário em nosso favor. Há, no entanto, amplo potencial a ser explorado, já que as exportações brasileiras representam apenas 0,8% do mercado esloveno. Do ponto de vista brasileiro, há espaço para incrementar o volume exportado, diversificar a pauta exportadora (concentrada em farelo de soja e café) e, ao mesmo tempo, ampliar-se como mercado aos produtos eslovenos. Nesse contexto, é auspicioso o acordo de associação birregional Mercosul-União Europeia, que está em fase de conclusão e, por certo, abrirá oportunidades mútuas no comércio bilateral com a Eslovênia.
Portanto, se você é um dos afortunados que reservaram espaço em sua agenda para estar entre os dias 20 e 24 de junho em Liubliana, cidade escolhida como anfitriã na entrega do World Company Award, o WOCA 2018, prepare-se para viver uma experiência única e intensa e ampliar seus horizontes nessa terra encantada e ocupada por um povo que constrói a cada dia seu projeto nacional com seriedade e determinação.
Renato Mosca é embaixador do Brasil na Eslovênia