Roberto de Oliveira
Quem olha aquela tripinha no canto esquerdo do mapa da América do Sul nem imagina quão surpreendente pode ser uma visita ao Chile, mas, ao percorrer alguns quilômetros país adentro, logo se impressionará não só com a beleza das paisagens como também com a simpatia de seus habitantes.
Com um território extremamente estreito (uma largura média de 180 km) e comprido (4.300 km de longitude), espremido entre o azul do oceano Pacífico e as montanhas de pico branco da cordilheira dos Andes, o Chile possui todo tipo de clima, exceto o tropical, e todo tipo de paisagem.
É para lá que vai uma leva de paulistanos à procura de aventura, pois a prática de esqui, trekking e rafting é um dos pontos fortes do turismo local. Há, porém, quem prefira contemplar os encantos da natureza e se deixar seduzir pela fauna e pela flora.
A pequenina cidade de Pucón, que no verão recebe intenso fluxo de turistas chilenos, torna-se ambiente acolhedor nos dias de outono-inverno. Para chegar lá, quem sai de São Paulo voa para Santiago e, com uma horinha a mais de voo, está em Temuco, a cerca de 90 minutos de carro de Pucón.
Às 9h30, o Sol brilha no lago Villarrica, formado por degelo, com 170 km de superfície de águas transparentes. Os olhos inebriados do visitante logo descobrem, ao fundo, o vulcão de mesmo nome, imponente nos seus 2.840 m de altura.
Ativo, vai soltando uma fumarola branquinha que rabisca levemente de branco o azul do céu. O vulcão é uma das atrações do Parque Nacional Villarrica, onde existe um centro de esqui habilitado para esportistas de níveis básico, intermediário e avançado. Pode-se dizer que ali se fala o português –pelo menos no inverno, quando os turistas brasileiros invadem o local.
Cidade e balneário da região da Araucanía, Pucón abriga cerca de 10 mil habitantes –cinco vezes mais em fevereiro. Nesta época do ano, desenha-se como um lugar tranquilo, ideal para famílias e para os adeptos do turismo solitário.
Bem de frente para o lago, em meio a bosques e jardins, fica o hotel Antumalal, um ícone da história de Pucón. Fundado nos anos 1940, já recebeu personalidades como a rainha Elizabeth, da Inglaterra, Neil Armstrong, James Stewart, Barry Goldwater e Emma Thompson.
Uma das vistas mais impressionantes é a que se tem de dentro do restaurante, de onde se contempla o espelho d’água do lago. O visitante pode fazer caminhadas às margens do lago e do vulcão e até um agradável passeio para a observação de pássaros.
DESERTO
No extremo norte do país, outro universo ganha forma. Em meio a lagoas, montanhas com pico de neve, salares, terras avermelhadas e um céu coalhado de estrelas, situa-se o Atacama. É o deserto com a maior altitude do mundo, a 2.500 m acima do nível do mar.
A lista de pontos impressionantes por ali é tão extensa quanto a daquelas terras do norte do Chile que fazem fronteira com o Peru. Dizer que esses são lugares que é preciso conhecer antes de morrer pode parecer um clichê, mas, nesse caso, a frase aplica-se com justeza. Só vendo, só estando lá para saber.
Porta de entrada do deserto, a cidade de San Pedro do Atacama abriga 5.000 habitantes. Localiza-se a mil quilômetros da capital, Santiago. Voos chegam e saem de Calama, cidade a cerca de 100 km dali. A 2.800 m de altitude, o povoado exibe construções de adobe, mistura de barro, palha e outras fibras naturais que ajudam a conservar fresco o ambiente interno.
Seu Valle de La Luna ajuda o visitante a aclimatar-se ao ambiente de ar rarefeito, ao pó e à baixa umidade, antes de alçar caminhos mais altos. Mais! Sua paisagem surreal é a “cara” de Atacama: longos trechos de areia, pedras e subidas íngremes, formados da erosão do vento e da água, das camadas de sedimento e sal vertical, gesso e rochas de argila. Dunas, areia e esculturas rochosas naturais, muitas delas vermelhas como se fossem pinturas, sugerem cenários comparáveis aos do planeta Marte.
Em meio aos jatos de água quente e vapor que saem da terra, situa-se outra paisagem impressionante: a dos gêiseres de El Tatio. A temperatura ambiente está em 15°C –negativos. Estamos a 4.200 m acima do nível do mar, no chamado Altiplano, considerado o maior campo geotérmico da América Latina.
Vapores dos aproximadamente 80 gêiseres em ebulição saem por todos os lados. Suas erupções podem alcançar 10 m numa temperatura média de 86°C. O horário ideal para observar o fenômeno é entre as 6h e as 7h, o que levará o viajante a deixar a cama por volta das 4h, para percorrer os 90 km que separam São Pedro de El Tatio.
Cravado no interior da Reserva Nacional Los Flamencos, o salar do Atacama é dono de um pôr do sol que passeia do cor-de-rosa ao alaranjado. É ali que se manifesta a mais rica paleta de cores do deserto. Flamingos cor-de-rosa fazem o visual das lagoas ficar ainda mais extraordinário nessas planícies cobertas de sal.
É para caminhar, clicar, refletir e encantar-se sob o sabor incessante do silêncio. Esses roteiros são criados por guias especializados, que fazem uma entrevista para traçar o perfil do visitante assim que ele pisa no Tierra Atacama.
De estilo rústico-chique, o hotel-spa combina conforto, boa mesa e aventura. O cardápio privilegia ingredientes do país, da entrada às saborosas sobremesas, harmonizadas com safras distintas de vinhos.
A divisa entre o restaurante e o acesso à piscina é toda de vidro, com o impressionante vulcão Licancabur a dominar toda a paisagem, com seus 5.920 m de altitude. Seja pela manhã, seja no fim de tarde, qualquer momento é certo para apreciá-lo. Nessas horas, a melhor companhia é uma “copa” de vinho carménère, outra maravilha das terras chilenas!