Jornal do Brasil
Maria Luisa de Melo
A crise hoteleira pela qual passa o Rio de Janeiro, com taxa de ocupação pouco acima dos 40%, pode ser liquidada com uma maior promoção do estado e de um incremento da segurança. É o que acredita o ministro do Turismo Vinicius Lummertz. Ele foi um dos convidados da 60ª edição do Congresso Nacional de Hotéis (Conotel), principal evento brasileiro voltado para soluções do setor, realizado, este ano, pela primeira vez, em Fortaleza, no Ceará.
Segundo ele, o Rio tem sido prioridade do ministério, que busca uma linha adicional de crédito para maior promoção das belezas fluminenses. Só na cidade do Rio, a oferta de quartos quase dobrou por conta dos Jogos Olímpicos, em 2016, saltando dos 30 mil para os 58 mil quartos. Aliado à crise, o excesso de demanda refletiu-se em milhares de quartos desocupados e hotéis fechados.
“O problema do Rio de Janeiro são as entressafras de eventos, por isso foi lançado o programa ‘Rio de Janeiro a janeiro’ (parceria firmada entre os governos federal, estadual e a Prefeitura, para estimular a geração de renda), que nós ajudamos a promover no mundo. O Rio é o nosso destino prioritário para cumprirmos esta lacuna, que é justamente esta oferta adicional”, diz.
Segundo ele, o ministério busca, em parceria com a Prefeitura, “uma linha adicional de crédito para maior promoção” do estado: “O Rio está pronto, mas precisa ser promovido. Também precisamos trabalhar a questão da segurança na cidade”.
Ex-presidente do Ipea, o economista Marcelo Neri defendeu importância de aumentar o investimento em infraestrutura de transporte para impulsionar o potencial turístico de todo o estado.
Para Neri, enquanto os megaeventos recebidos recentemente pelo Rio foram pontos altos, a quantidade de turistas recebida pelo Brasil é “ridícula”: seis milhões e meio de visitantes internacionais, o que corresponde a um sexto do que recebe o México, com população menor que a brasileira. O número corresponde ainda a um terço do número de visitantes recebidos pelo Canadá, que também tem população menor que a nossa.
“O Rio é o segundo estado brasileiro no ranking de turismo doméstico. E não estamos falando só do município, mas também de cidades como Búzios, Paraty e Angra, que se mantém na lista dos principais destinos do país. Não tenho a menor dúvida de que o Rio tem uma excelente vocação turística. Mas, aos olhos de hoje, está uma desgraça. A gente tá tão ruim que, em algum momento, a coisa deve melhorar”.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição da qual Neri faz parte, revela que 58% dos turistas do Rio vêm do próprio estado. Isso deve-se ao fato de que a principal parcela da despesa com o turismo é abocanhada pelo transporte: “É fundamental uma maior competição no setor de transportes, com mais investimentos em infraestrutura. A proximidade do destino é acaba sendo determinante”, diz.
Ainda de acordo com ele, o principal turismo no Brasil é voltado para o lazer (57%), seguido pelo de eventos/ convenções (19%). Na seara do lazer, os destinos com praias encabeçam a lista dos mais procurados, com 69%; seguido pelos destinos com montanhas (16%). Neri ressalta ainda que o poder público precisa dar uma atenção especial à questão do saneamento – calcanhar de Aquiles de várias cidades turísticas fluminenses, como Armação de Búzios. Sem tal cuidado, corre-se o risco é exterminar a própria fonte de receita: “As falhas de Estado tem atrapalhado mais do que ajudado o turismo brasileiro”.