O caso está sendo analisado pela Corte de Haia. Em Brasília, o Día del Mar foi lembrado com uma grande faixa em frente à embaixada da Bolívia e um ato prestigiado por embaixadores e representantes do corpo diplomático.
Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
Os bolivianos estão em campanha para que o país volte a ter saída pelo mar. Este mês, fizeram grandes manifestações no país, inclusive, no dia 10, estenderam uma faixa azul e símbolos do país – com 200 km de extensão – saindo da cidade de Oruro até a capital, La Paz. O “Bandezaro” – com a faixa de reivindicação marítima mais larga do mundo, levantada por cerca de 30 mil pessoas – foi convocado pelo presidente boliviano, Hugo Morales, como parte das jornadas pelo mar, que prosseguem naquela nação até dia 28 deste mês. Em Brasília, a embaixada da Bolívia promoveu o Día del Mar, estendendo uma bandeira azul na entrada de sua sede.
A saída para o mar implica em maior segurança para a Bolívia, bem como a possibilidade de se ter um porto marítimo e facilidades para importação e exportação. O país perdeu para o Chile 431 km de saída pelo mar, durante a guerra do Pacífico, de 1879 a 1884. Além de ampliar o acesso ao mar, houve interesse do Chile – com apoio da Inglaterra – em dominar terras ricas em metais, sobretudo salitre. Antofagasta, Tocopilla e Kalama, entre outras terras bolivianas passaram ao domínio chileno.
Durante o evento, foram distribuidos um livro com declarações de dezenas de presidentes e líderes mundiais, inclusive personalidades chilenas, que apoiam a demanda marítima boliviana. A questão encontra-se na Corte Internacional de Justiça de Haia para que o Chile abra as negociações com a Bolívia. No dia 19 deste mês, iniciaram-se as argumentações orais de ambos os países.
O embaixador José Antônio Kinn lembrou que o conflito existe há mais de 100 anos. “Sempre consideramos injusto que o uso da força nos condenasse a viver sem litoral”. Segundo ele, desde os primeiros anos do século XX autoridades e personalidades do Chile concordaram com a necessidade de a Bolívia voltar a ter saída para o mar, como está registrado em inúmeros documentos históricos oficiais e não oficiais. “Temos recebido inúmeras demonstrações de apoio no Chile de movimentos sociais, organizações políticas e outras”, disse. O deputado Tomas Hirsh e a escritora Isabel Allende estão entre esses apoiadores.
De acordo com José Antônio Kinn, houve encontros de governantes e ministros a favor do pedido da Bolivia, mas “infelizmente não aconteceu a reparação da injustiça”. A situação afetou as relações entre os dois países, que não permite relações normais de amizade, vizinhança e diplomáticas. Na visão do embaixador, é saudável resolver esta pendência e ainda que não se consiga a recuperação de todo o território perdido e considerando que o Chile tem mais de 14 mil km de costa, “uma atitude razoável seria atender ao clamor do povo boliviano e de milhares de chilenos”.
“No âmbito econômico, mais de 80% das nossas exportações e importações vão pelos portos do norte chileno. No entanto, os interesses de poderosos grupos econômicos nesses portos barram uma solução”, disse o embaixador. Ele citou o discurso do ex-presidente João Goulart em 9 de novembro de 1962, destacando a preocupação do Brasil “pelo enclausuramento da Bolívia”. Presidentes e ex-presidentes de países como o Brasil, EUA, Argentina, Uruguai, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Argentina, Paraguai, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Espanha, Cuba e México; e personalidades como o jogador Diogo Maradona, o escritor Eduardo Galeano, os papas Francisco e João Paulo II e o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel apoiam a causa boliviana. Um vídeo com depoimentos e grandes manifestações favoráveis à causa foi exibido na sede da embaixada da Bolívia. Dezenas de embaixadores e representantes do corpo diplomático estiveram presentes. Ao final, foi servido vinho, refrigerantes e as famosas salteñas aos convidados.