Eles defendem a soberania e a independência de Cuba e se articulam contra o bloqueio norte-americano. Medidas de Trump restrigem viagens daquela população.
SúsanFaria
Fotos: Eliane Loin
Os cubanos estão se organizando e criando associações em cidades de várias partes do mundo,onde se radicaram, com o objetivo de defender a soberania e a independência do país. O recrudescimento da política do presidente americano Donald Trump contra a Ilha preocupa essas comunidades.
Em Brasília, o encontro foi realizado dia 18 de novembro,na sede da Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (UnB), e contou com a presença do encarregado de negócios da Embaixada, Rolando Gomes, além de cubanos residentes no Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso, dentre outros estados.
Em novembro, houve reuniões regionais de cubanos residentes na América Latina e Caribe, no Panamá. Os que vivem na Europa se encontraram na Itália. E aqueles que estão nos Estados Unidos se reuniram em Washington. Todas as assembleias foram organizadas pelas comunidades de cubanos que vivem fora da Ilha. Já somam 157 associações em 72 países, o que na avaliação do diplomata Rolando Gomes demonstra que o processo de fortalecimento das relações entre seu país e seus conterrâneos residentes no exterior é contínuo e irreversível.
Estados Unidos – De acordo com Rolando Gomes, nos anos 2015 e 2016, o governo dos Estados Unidos fez emendas para modificar algumas das regulações da política de bloqueio à Cuba. “Reconheceram o fracasso dessa política, injusta e rejeitada de maneira universal”, comentou. Ainda segundo Gomes, em 16 de junho deste ano, o presidente dos EUA, Donald Trump anunciou o recrudescimento do bloqueio como componente fundamental de sua política para a Ilha, decisão reafirmada no discurso de Trump nas Nações Unidas, em setembro de 2017.
“Com essa postura contra Cuba, o presidente Trump reverte os avanços alcançados nas relações bilaterais, depois que em 17 de dezembro de 2014, os presidentes dos dois países (EUA e Cuba) anunciaram o restabelecimento de relações diplomáticas e o início de um processo de normalização dos vínculos bilaterais”, disse Rolando Gomes.
Em Cuba houve três conferências “A Nação e a emigração” (1994, 1995 e 2004), em que se adotaram diferentes medidas para estreitar os vínculos dos cubanos residentes no exterior com Cuba.
Viagens – Segundo Rolando Gomes, em janeiro de 2013, foi criado um grupo para tratar de novas medidas migratórias que resultou em um incremento sustentável das viagens de cubanos, bem como das visitas dos conterrâneos residentes no exterior a Cuba.
De 14 de janeiro de 2013 até meados de novembro de 2017, um total de 769.254 cubanos viajou ao exterior, sendo 79% pela primeira vez. Este ano, em comparação com o ano passado, houve um crescimento de 28% dessas viagens. Em 2016, 428 mil cubanos residentes no exterior voltaram a sua terra e destes 329 mil são procedentes dos Estados Unidos. “O número de cubanos que vivem no exterior e decidem estabelecer a residência permanente em Cuba tem aumentado”, explicou o diplomata.
Dificuldades– Rolando Gomes afirmou que a atual conjuntura das relações com os Estados Unidos é muito complexa e está caracterizada por significativo retrocesso nos vínculos bilaterais, “como resultado da troca de política do atual governo norte-americano, que decidiu reduzir drasticamente o pessoal de sua embaixada em Havana e suspendeu de maneira imediata a emissão de vistos”.
Paralelamente à redução do pessoal diplomático em Havana, o governo dos EUA expulsou do seu território 17 funcionários da embaixada cubana em Washington, incluindo parte da equipe do consulado. “Esta medida, de natureza política, tem um impacto negativo nos serviços consulares e torna particularmente difícil para os cubanos residentes nos Estados Unidos viajarem para o nosso país”, explica o diplomata.
Rolando Gomes alerta que a situação criada hoje ameaça o fluxo regular de viajantes entre os dois países, incluindo mais de meio milhão de cidadãos cubanos, que viajam anualmente de uma forma ou de outra entre os dois países. A transferência para países terceiros para obter o visto dos EUA por cidadãos cubanos torna os procedimentos caros e sem qualquer garantia de concessão, segundo o encarregado de negócios da embaixada de Cuba em Brasília. A seu ver, essas medidas afetam diretamente as famílias cubanas que, no futuro, não poderão obter seus vistos em Havana e enfrentarão maiores obstáculos para visitar seus parentes, e mesmo para aqueles que desejam emigrar.
Na avaliação do diplomata, os avanços realizados em 2015 e 2016 demonstraram que Cuba e os Estados Unidos podem coexistir de forma civilizada, respeitando suas diferenças. “Queremos uma forte associação de cubanos, que contribuam para reforçar a unidade dos patriotas cubanos, onde quer que estejam”, disse, ressaltando que a embaixada em Brasília trabalha junto com os cubanos na defesa e divulgação da cultura, identidade e tradições da Ilha.
“Todos nós conhecemos a Cuba que existia antes de 59, a dos bordéis, a da discriminação, a do analfabetismo, a da insalubridade, a da exploração e da entrega das nossas riquezas à capital norte-americana, a da expulsão dos camponeses, a de os desaparecidos e assassinados, especialmente os jovens”, disse.