Acordo de livre comércio com o Mercosul vai permitir uma maior articulação empresarial dentro da África
por Nabil Adghoghi
O Marrocos e o Mercosul iniciaram, segunda-feira, em Brasília, negociações oficiais em vista de alcançar um acordo de livre comercio. Tal acordo reforçará o compromisso do Mercosul com mais abertura e mais interação com os novos padrões desenhados pela globalização; caminho que a presidência pro-tempore do Brasil está reforçando através de uma abertura tanto para o Polo Ásia-Pacifico quanto para Europa, com o encerramento das negociações com o Associação Europeia de Livre Comércio (Efta) e a aceleração das discussões com a União Europeia.
Esse acordo permitirá, por outro lado, ao Marrocos seguir adiante na escolha estratégica que fez, há anos, pela inserção na globalização e a internacionalização de sua economia, e que lhe permite se posicionar, hoje em dia, como um hub econômico ligado por acordos de livre comércio com a União Europeia, os Estados Unidos, a Efta, os países de Golfo Árabe (CCG), a Turquia… e que se tornará, em breve, membro da Ecowas, o bloco econômico que reúne 16 países da África ocidental.
Portanto, o potencial de um acordo de livre-comércio entre o Marrocos e o Mercosul não deve ser identificado através, única e exclusivamente, do crescimento dos fluxos comerciais entre as duas partes. Tal prisma não deveria produzir muito entusiasmo dentro das comunidades empresariais, devido às pequenas “margens de progresso” que o comercio bilateral poderia alcançar dentro de um regime de livre comércio.
Cabe-nos, ao contrario, avaliar o potencial desse novo marco jurídico através das oportunidades que o Marrocos poderia oferecer aos operadores econômicos do Mercosul junto aos mercados árabes, africanos e europeus. Isso porque, na nova geoeconomia, é cada vez mais decisivo e mais crucial mobilizar os potenciais ganhos que mercados poderiam oferecer junto a outras regiões.
Ao invés de se contentar com uma análise estática dos fluxos comerciais entre ambas as partes, deve-se fazer uma projeção dinâmica dos lucros potenciais em termos de comercio, de investimentos e de agregação nas cadeias de valor.
Dessa maneira, o Marrocos ambiciona se posicionar como um hub aberto sobre diversas zonas econômicas, especialmente na África, já que a política africana do Marrocos, sob a liderança da Sua Majestade o Rei Mohammed VI, está ganhando um novo patamar, que se verifica no seu âmbito geográfico, na natureza de seus projetos e se reflete também no desempenho de setor privado marroquino nos setores bancários, de seguros, de transporte aéreo, de telecomunicações, de habitação, de indústria farmacêutica… Em 2016, o Marrocos foi o país africano que mais investiu no continente, com cerca de US$ 4 bilhões.
Uma dinâmica tão promissora quanto vigorosa se nota igualmente na avaliação da presença do Brasil na África. Como bem destacou o chanceler brasileiro, o ministro Aloysio Nunes Ferreira, a parceria do Brasil com a África não é apenas uma decorrência das afinidades históricas, humanas e culturais, mas um imperativo na construção de uma ordem mundial mais equilibrada e mais justa. Em 2016, o Brasil registrou um superávit de US$ 3,2 bilhões no intercâmbio comercial com os países africanos.
Consideramos, portanto, no Marrocos que um acordo de livre comércio com o Mercosul vai permitir uma maior articulação empresarial dentro da África, no intercambio comercial e nos fluxos de investimentos diretos. Julgamos, também, que esse acordo vai dar às relações bilaterais entre Marrocos e Brasil um novo impulso, cujo marco jurídico vai se enriquecer, nos próximos meses, com um Acordo de Cooperação e de Facilitação de Investimentos; um convênio em matéria de dupla tributação setorial e um acordo em matéria de serviços aéreos. Especificamente, o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos favorecerá a triangulação de investimentos e permitirá às empresas brasileiras e marroquinas montarem operações conjuntas na África e nos outros países árabes.
Por fim, esse acordo abrirá novas oportunidades de ações conjuntas para potencializar o Atlântico Sul, a fim de torná-lo um espaço seguro e próspero, com mais fluxos comerciais, mais parcerias na agricultura e na pesca e mais conectividade logística entre os dois lados do oceano.
Essa dinâmica, tanto regional (com o Mercosul) quanto bilateral (entre Marrocos e Brasil), permitirá de fato ao Atlântico Sul emergir como um novo polo da economia mundial, onde possamos experimentar um regionalismo aberto e concretizar uma nova filosofia do comércio internacional, que seja mais equilibrada, mais equitativa e benéfica para todos.
Nabil Adghoghi é o embaixador do Marrocos no Brasil