País árabe forneceu 110 mudas de 12 espécies de tamareiras para que brasileiros testem a viabilidade comercial da produção de seus frutos na região do semiárido. Além de gerar renda para agricultores baianos, tâmaras poderão ser exportadas.
Há um ditado árabe que afirma que “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”. Essa ideia vem dos tempos em que uma árvore levava cerca de um século para dar seus primeiros frutos. Mas, com a ajuda da tecnologia, que pode concentrar cem anos em cinco, a afirmação ficou anacrônica. “Antigamente, a produção só era alcançada com as plantas em idade avançada. Hoje, é possível ter frutos mais precocemente, principalmente com o cultivo em solo irrigado do semiárido”, explica Maria Auxiliadora Coêlho de Lima, chefe-geral da unidade Semiárido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que coordena os testes de adaptação dessas plantas originárias de regiões desérticas ao bioma brasileiro, uma iniciativa que envolve os governos da Bahia e dos Emirados Árabes.
O governo baiano demonstrou interesse em estimular o cultivo de tamareiras no estado, como projeto-piloto, para fomentar a produção local, fornecer tâmaras o ano inteiro e facilitar a exportação para os principais países consumidores. “Com relação aos frutos, temos um potencial de produção importante. O que precisamos neste momento é identificar as variedades de maior interesse para produção nas nossas condições do semiárido do Brasil e espécies com maior predileção pelos mercados consumidores”, diz a pesquisadora.
Auxiliadora revela que a ideia de produzir comercialmente tâmaras no Brasil não é nova, e que nas décadas de 1980 e 1990, a Embrapa Semiárido chegou a avaliar e verificar espécies com desempenho produtivo muito bom em solo nordestino. “Mas era difícil diferenciar as plantas masculinas das femininas e, quando se faz um plantio comercial, naturalmente, o interesse é que se tenha um número elevado de plantas femininas e apenas poucas masculinas, que servirão para polinizar.” Com essa dificuldade, o programa não avançou para uma recomendação comercial. Agora, o projeto passa por processo equivalente ao do passado, porém com mais conhecimento científico disponível, e em parceria com o governo dos Emirados.
Segundo a pesquisadora e doutora em Agronomia, com o uso da irrigação é possível antecipar a produtividade e estabelecer o manejo da planta a fim de estimular uma produção mais precoce. “Produzindo num período até mais curto do que nos países de origem da tamareira, podemos ter um retorno mais rápido do investimento, favorecendo a geração de renda para os produtores.”
Para esse novo estudo de viabilidade, o Brasil recebeu dos Emirados 110 mudas, de 12 variedades de tâmaras, que antes de serem plantadas no Cerrado e na Caatinga, lugares onde o clima e o solo são similares a regiões desérticas, passam por uma quarentena na sede da Embrapa de Brasília, que tem estrutura responsável para isso. “Esse processo é sempre necessário quando plantas ou outro material vegetal e animal é recebido pelo País. Com a garantia sanitária assegurada, as mudas serão liberadas para o plantio, que vai ocorrer no estado da Bahia”, explica.
Tâmaras: viabilizando o projeto
Segundo Auxiliadora, os investimentos na produção poderão ter diversas origens, inclusive dos Emirados Árabes. “Há oportunidades de negociações por meio de diferentes fontes de apoio, então, o governo da Bahia está fazendo a articulação para captar recursos”, explica.
Na parceria, a Embrapa entra com conhecimento, facilitando a identificação de variedades com maior potencial, recomendando técnicas de manejo, inclusive nutricional e do uso equilibrado da água para essas plantas, além de outras estratégias, como a identificação mais eficiente das plantas masculinas, a fim de facilitar a produção de mudas, também no Brasil. “A Embrapa, com sua expertise, prestará suporte técnico essencial a essa nova fase. O protocolo detalhado para a avaliação das variedades está em fase de elaboração”, conta Auxiliadora. O conjunto de estratégias visa dar embasamento para apoiar iniciativas e recomendar, no futuro próximo, o cultivo com bases técnicas apropriadas para fomentar a atividade no cenário baiano e também estabelecer oportunidades para outros estados.
“O semiárido tem suas necessidades específicas de fomentar atividades competitivas para garantir melhoria de renda para os produtores, e a tâmara é um produto nobre de alto valor agregado. Queremos que a produção tenha uma rentabilidade interessante e possa fomentar o desenvolvimento também de pequenos produtores em uma região do País que é carente de investimentos”, diz Auxiliadora. “A iniciativa, além de gerar renda para os agricultores, tem o potencial de posicionar a Bahia como um novo polo produtor, aproveitando a expertise da Embrapa em culturas adaptadas ao semiárido.”
Fonte: ANBA