Atitude na diplomacia mostra que o diálogo entre os dois países está interditado. Palácio do Planalto ficou incomodado com dois recentes gestos de Javier Milei.
O Ministro Mauro Vieira recebeu na manhã de hoje o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, para discutir o atual momento das relações bilaterais. Bitelli foi chamado a Brasília para consultas. Isso porque, desde a chegada de Javier Milei à Casa Rosada, houve um esfriamento no diálogo entre os governos que, a médio prazo, pode trazer prejuízos a uma longa relação diplomática e comercial. Em Brasília, o embaixador teve encontro também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante almoço de recepção oficial ao presidente da Itália, Sergio Mattarella.
“A ideia é conversar sobre temas da relação bilateral, como levar adiante da melhor maneira possível, com a atenção que merece ter. Relação dessa profundidade que a gente tem com a Argentina. Presidentes têm visões distintas. A preocupação é que isso não chegue a prejudicar a relação. O presidente Lula tem claro que a relação entre os dois países tem que continuar densa e importante como ela é, independentemente de diferenças de prioridades e visões de mundo”, salientou o embaixador afirmou que, para o presidente Lula, a relação com o país vizinho é “mais importante” do que a que ele tem com Javier Milei.
Há poucos dias, Milei fez dois gestos que incomodaram o MRE e o Palácio do Planalto. O primeiro foi a vinda informal ao Brasil para evento da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) Brasil, evento da extrema direita realizado em 6 e 7 de julho, em Balneário Camboriú (SC) — no qual, inclusive, encontrou-se com o ex-presidente Jair Bolsonaro. O segundo foi a ausência na cúpula do Mercosul, no último dia 8, em Assunção — Lula disse, então, que era “uma bobagem imensa o presidente de um país importante” não participar do encontro e que era “triste para a Argentina”. Lula e Javier Milei têm trocado farpas publicamente nos últimos meses. Alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o argentino já chamou o petista de “corrupto” e “comunista”.
Simbolismo – Do ponto de vista da diplomacia, a convocação de um embaixador “para consultas” indica que há sérios problemas na interlocução entre os países. Bitelli é visto como uma espécie de “bombeiro” na relação entre Lula e Milei e promoveu a aproximação entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e sua correlata argentina, Diana Mondino. Com bom trânsito entre as atuais autoridades da Casa Rosada, o embaixador articulou o encontro entre a chanceler e Lula, em Brasília, em 15 de abril passado.
Os dois presidentes jamais se encontraram e, apesar de os canais diplomáticos amenizarem, não há a mínima disposição de realizarem um encontro bilateral. Em 26 de junho, Lula cobrou um pedido de desculpas de Milei e o acusou de falar “muita bobagem”. Dois dias depois, em entrevista à rádio La Nación, o argentino, por sua vez, respondeu subindo o tom.
Bitelli ficará no Brasil até a próxima quarta-feira, dia 24. O foco está em melhorar a relação comercial entre os dois países, que enfrentaram uma queda no comércio bilateral de 40% entre 2014 e 2020. A Argentina é um dos principais parceiros políticos e econômicos do Brasil. O estoque de investimentos brasileiros na Argentina inclui presença em manufaturados, serviços, mineração, energia e siderurgia. Houve queda no comércio bilateral.
“Há oportunidades novas que estão se abrindo na argentina, independentemente, das afinidades entre os governos. Por exemplo, no campo energético. A nossa ideia é buscar maneiras de aproveitar essas oportunidades”, declarou.
O embaixador destacou que a política econômica adotada por Milei tem gerado uma “retração muito forte” no consumo dos argentinos, o que tem afetado negativamente as trocas comerciais com o Brasil. Porém, para o diplomata, esse momento de retração é “circunstancial”. Segundo o governo brasileiro, houve uma queda de 22% no comércio bilateral Brasil-Argentina na comparação entre os primeiros semestres de 2024 e 2023. As exportações brasileiras caíram 37,6%.