Tanques cercam estabelecimentos de saúde no enclave palestino, atingidos por bombardeios e disparos. Netanyahu descarta ocupação e explica que a meta é a desmilitarização. Embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, considera estes ataques como “genocídio”
Rodrigo Craveiro +
Depois de uma madrugada e de uma manhã de horror em vários hospitais no norte da Faixa de Gaza, alvos de bombardeios e de tiros, tanques das Forças de Defesa de Israel (IDF) cercaram os prédios. Em um dos ataques, pelo menos 13 pessoas morreram no Hospital Al-Shifa — o maior do enclave, na Cidade de Gaza. Em nota, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) cobrou o respeito e a proteção às instalações médicas, aos pacientes e aos funcionários da saúde em Gaza. “A destruição que afeta os hospitais em Gaza está se tornando insustentável e precisa parar. As vidas de milhares de civis, pacientes e médicos, estão em risco”, advertiu William Schomburg, chefe da subdelegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Gaza, ao anunciar que o sistema de saúde atingiu um “ponto de não retorno”.
Também nesta sexta-feira (10/11), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou um cessar-fogo, negou que Israel pretenda governar Gaza, mas confirmou que suas tropas assumirão o controle até desmilitarizarem o enclave palestino. “Não buscamos governar Gaza. Não buscamos ocupá-la, mas queremos oferecer a ela e a nós um futuro melhor”, disse à emissora norte-americana Fox News. No fim da noite, o presidente da França, Emmanuel Macron, apelou a Israel para “deter esse bombardeio”. “Civis estão sendo bombardeados, isso é fato. Esses bebês, essas senhoras, esses idosos estão sendo mortos. Não há razão para isso e nenhuma legitimidade. Instamos Israel a parar”, declarou.
Um dos líderes sêniores do Hamas, Osama Hamdan acredita que Netanyahu tenha usado o termo “desmilitarização” de propósito, a fim de “enganar a comunidade internacional”. “Ele sabe que todo o mundo rejeitaria e condenaria a ideia de uma ocupação. Por isso, ele tenta usar essa palavra. O que isso significa? Ele ocupará Gaza por meio da força e tentará cometer mais massacres contra os palestinos, sob o slogan da necessidade de desmilitarizar Gaza”, afirmou ao Correio, por telefone, de Beirute. “Ele pretende reocupar Gaza, a menos que seja forçado pela resistência a recuar.”
De acordo com Hamdan, Netanyahu não acredita em um Estado da Palestina independente. “Ele sabe, mais do que ninguém, que não pode controlar a situação em Gaza. As últimas semanas mostraram que Israel tem atuado com uma força ocupante”, denunciou. Ele ressaltou que Gaza será um “túmulo” para os soldados israelenses. O líder do Hamas acusou o premiê israelense de minar o processo de negociação para a libertação de reféns mediado pelo Egito e pelo Catar. “Netanyahu precisa entender que nenhum dos ‘prisioneiros de guerra’ retornará a Israel, a não ser que os presos palestinos sejam libertados”, disse Hamdan.
Em discurso no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus advertiu que o sistema de saúde de Gaza está “de joelhos”.”Corredores de hospitais lotados de feridos, doentes e moribundos, necrotérios transbordando, consultórios sem anestesia, dezenas de milhares de refugiados nos hospitais”, descreveu, ao denunciar “mais de 250 ataques” a instalações de saúde em Gaza e na Cisjordânia desde 7 de outubro. Tedros reforçou que uma criança morre a cada 10 minutos no enclave e anunciou que metade dos 36 hospitais não estão em funcionamento.
(foto: Evaristo Sá)
“Cinco hospitais na zona norte e outros três na cidade de Gaza foram alvo de bombardeios, seja diretamente ou nos seus pátios. Centenas de feridos correm sério risco de perder a vida. Colapsar o sistema saúde é objetivo macabro do Exército de Israel para causar maiores baixas e exercer pressão na população. Tal fato se enquadra como genocídio. A declaração de Netanyahu não deixa de ser nova farsa enganosa. Militares de alto mando falam de um período largo, de quase um ano de ação bélica, em Gaza.Como isso pode ser chamado? Tem outro nome que não seja ocupação?”
Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil
Fonte: Correio Braziliense