EXCLUSIVO- Reuters Por Daniela Desantis
O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, disse em entrevista exclusiva à Reuters que as negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul devem ser interrompidas, e que duvida que o bloco europeu tenha “interesse genuíno” em fazer avanços.
Peña, que toma posse na semana que vem, também afirmou que as exigências ambientais da UE nas discussões são “inaceitáveis” e prejudicariam o desenvolvimento econômico do país, que é grande exportador de soja.
Os comentários, os mais fortes de Peña sobre as negociações desde sua vitória nas eleições de abril, ressaltam as tensões crescentes à medida que os dois blocos buscam finalizar o acordo, longamente adiado devido a dúvidas sobre os compromissos ambientais do Brasil sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na América do Sul estão os principais exportadores de soja, milho e carne bovina do mundo. Os países do continente têm se oposto cada vez mais às demandas ambientais da UE, dizendo que representam o protecionismo europeu e prejudicariam a produção local. “Esta abordagem da UE é simplesmente inaceitável”, disse Peña, de 44 anos, que representa o conservador Partido Colorado, durante uma rara entrevista em sua casa em Assunção.
“O que a União Europeia tem que fazer é esclarecer se quer ou não avançar com um acordo de livre comércio. Hoje eu questiono se eles têm interesse genuíno.” Autoridades do Mercosul estão trabalhando em uma contraproposta antes de se reunirem com os negociadores da UE. Há algumas esperanças de se chegar a um acordo ainda neste ano.
“Do nosso ponto de vista, as negociações devem ser encerradas e a decisão simplesmente tomada: queremos que isso aconteça ou não queremos que isso aconteça?”, acrescentou Peña.
O presidente eleito disse ainda que não planeja criar novos impostos sobre o setor agrícola, o motor econômico do terceiro maior exportador mundial de soja. Ele disse que alguns impostos sobre o comércio internacional podem até ser eliminados para aumentar a competitividade.
“O Paraguai precisa consolidar o modelo que tem hoje de impostos baixos para atrair investimentos e gerar empregos”, afirmou. “Provavelmente no futuro com uma economia mais formalizada… poderíamos pensar em alguns ajustes em algumas taxas.”