Por Rachel Alves Nariyoshi
Hoje, dia 05 de maio de 2023, primeira sexta-feira do mês, o mundo todo comemora o Sauvignon Blanc Wine Day. Uma ação mundial para a valorização do vinho elaborado daquela variedade Vitis Vinífera branca, originária de Bordeaux/França que, segundo exames de DNA, num cruzamento natural com a variedade tinta Cabernet Franc são os pais da Cabernet Sauvignon (a variedade mais plantada e mais apreciada no mundo).
Sua revelação no vinho vai depender de onde foi cultivada, se área fria ou quente e se velho ou novo mundo, isto é, vai depender das características do seu terroir. No novo mundo, especialmente nos lugares mais quentes, o vinho de Sauvignon Blanc é muito apreciado e, quando bem geladinho, é um vinho refrescante. Na harmonização, sua indicação é para acompanhar as saladas de folhas. No geral, o vinho de Sauvignon Blanc é mais leve.
Muito conhecido mundo afora, a Sauvignon Blanc é a principal variedade branca da Nova Zelândia e foi lá mesmo que mereceu atenção especial do Bragato Research Institute no programa de melhoria, que tem como objetivo desenvolver novas variantes mais resistentes às secas, às geadas, às pragas e doenças. Esse programa tem sete anos para concluir seus experimentos que aplicará a tecnologia de sequenciamento de genoma, permitindo criar até vinte mil novas variantes, todas diferentes, porém semelhantes à “mãe” Sauvignon Blanc. Depois dessa criação, deverá ser identificado as plantas que exibem os traços consideráveis mais úteis para a indústria vitivinicultura como por exemplo, qualidade e quantidade. Jeffrey Clarke, CEO do Instituto Bragato, diz que “esse projeto permitirá selecionar características para acomodar a Sauvignon Blanc em um ambiente que está em mudança, capturar oportunidades de mercado e afastar ameaças de biossegurança.” Nós do outro lado do mundo torcemos pelo sucesso desse projeto. Ah, foi de Nova Zelândia que vieram as primeiras garrafas do vinho Sauvignon Blanc fechadas com tampa de rosca, a screwcap, tendência que está se difundindo em todo o mundo.
Destemidos, a família italiana Marchese é formada por agricultores que migraram para o Cerrado vindo do Rio Grande do Sul nos anos 70, a fim de cultivar grãos no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD/DF). Fabrício, terceira geração desses italianos, conta que seu avô Henrique Marchese, pioneiro nessa grande aventura, trouxe de navio as primeiras mudas de videiras plantadas pelos italianos no Rio Grande do Sul. Lembra, também, que conheceu o trabalho de viticultor, primeiro comendo uvas tiradas das parreiras pelas mãos do avô e depois seu pai, Elias Marchese, o ensinou a tratar a videira e a fazer as podas, “muito embora naquela época nem se falava em poda de inverno que é o que praticamos aqui no Cerrado”, afirma.
Saudoso, Fabrício lembra que “para os italianos, o vinho e o pão são alimentos presentes na mesa. Meu avô dosava com água os primeiros goles de vinho de cada neto, desde tenra idade, pra gente ir acostumando. Ele tinha orgulho da pureza de sua produção, que era reconhecida na linha de “Xarqueada” no então município de Encantado no Rio Grande do Sul”. Continua Fabrício contando que “transeuntes, a cavalo, faziam uma parada na casa do meu avô, mesmo sem descer do cavalo, para uma “ciacolada” (prosa) e um copo de vinho, cultivando hospitalidade e amizades.”
Elias Marchese cultiva grãos no PAD/DF, mas respeitando suas origens e tradições, cultiva em seu quintal videiras da variedade Izabel (conhecida por La brasiliana), mesma variedade cultivada lá no Rio Grande do Sul. Sua esposa, Odete Trentin, faz chimias (geleias) e Elias faz o tradicional vinho colonial.
Mas a oportunidade de empreender e ser original no meio agrícola fez com que Fabrício e outros 9 produtores do PAD/DF, juntos, construíssem a primeira vinícola do Distrito Federal, a Vinícola Brasília. Partindo dessa tradição agrícola, hoje o Vinhedo Marchese tem 5 hectares plantados com as variedades tintas Syrah, Cabernet Franc, Primitivo e a variedade branca Sauvignon Blanc. Para o sucesso dos vinhedos, a família Marchese usa novas tecnologias disponíveis para essa agricultura, em particular a dupla poda e a irrigação por gotejamento, unindo tradição e inovação em seus processos de produção.
O vinhedo de Sauvignon Blanc foi implantado em 2020 e em sua primeira vindima no ano de 2021, com seleção manual dos cachos, foram elaboradas somente 30 garrafas do vinho e na vindima de 2022, foram elaboradas 600 garrafas.
Fabrício Marchese afirma que daquelas 30 garrafas entenderam “como a videira de Sauvignon Blanc estava se adaptando nesse terroir. O vinho foi uma surpresa, nos revelou que estávamos no caminho certo. Foi um momento muito especial para a família Marchese, nosso sonho de produzir vinhos no cerrado do Distrito Federal se tornou realidade. Engarrafamos o primeiro Sauvignon Blanc 100% Brasiliense”, fala orgulhoso.
Fizemos uma avaliação sensorial do Sauvignon Blanc 100% brasiliense do Vinhedo Marchese com os proprietários Renata e Fabrício Marchese. Renata que é a responsável pelo marketing diz que “Nossos vinhos expressam a autenticidade do nosso terroir. São finos, elegantes, muito equilibrados e com excelente complexidade aromática.” Isso mesmo: aromas se exalam a cada movimento do vinho na taça. Eis nossa impressão: O vinho apresenta coloração amarelo palha, clarinho mesmo. Percebemos aromas de frutas cítricas, destaque para a maçã verde, além de notas herbáceas, da delicadeza das notas de mel, de pepino e muito alecrim. Na boca apresenta boa estrutura, acidez equilibrada e grande mineralidade, característica obrigatória dos bons Sauvignon Blancs. É um vinho harmonioso com final de boca prolongado, refrescante, fácil de beber e harmonizar.
O vinho Sauvignon Blanc, safra 2022, foi lançado no Memorial JK exatamente no dia 21 de abril de 2023 (21 de abril de 1960 marca a fundação de Brasília). Uma celebração festiva, elegante e lá estavam os grandes apreciadores de vinhos da cidade, toda a família Marchese e todos os descendentes do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Como entusiasta do vinho nacional quero parabenizar a Vinícola Marchese pela coragem em cultivar a Sauvignon Blanc aqui no cerrado e fazer esse vinho único!
@rachelalves.professoravinhos