Depois de adiar a viagem à China por um problema de saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou na manhã desta terça-feira (11) para Pequim com um objetivo de retomar o protagonismo internacional do Brasil. Para isso, um dos planos do petista é apresentar sua proposta de mediação de paz para a Ucrânia, o que colocaria o país no primeiro plano da cena internacional.
Com informações de Justine Fontaine, da RFI
Após quatro anos em que o governo brasileiro abandonou a diplomacia internacional, Lula assumiu a missão de retomar a tradição diplomática do Brasil. Na primeira viagem à China deste mandato, ele apresentará ao presidente Xi Jinping uma proposta de mediação de paz entre a Ucrânia e a Rússia. O encontro entre os dois está marcado para sexta-feira (14).
O presidente brasileiro tenta manter a neutralidade no conflito para se colocar em posição adequada para intermediar negociações. Com esse intuito, Lula se recusou enviar munição para a Ucrânia este ano e propõe a criação de um grupo de países mediadores.
“O Brasil tem uma posição intermediária que pode colocar em volta da mesma mesa diferentes atores que se opõem firmemente uns contra os outros”, considera o cientista político, Frédéric Louault, professor da Universidade Livre de Bruxelas. “Lula, durante seus primeiros mandatos, manteve boas relações com a Rússia, sem virar as costas para os Estados Unidos, para a União Europeia e todo o bloco ocidental”, lembra.
Durante o governo do petista foi fundado o Brics, o grupo heterogêneo que reúne Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Ao mesmo tempo, o país no período se aproximou das grandes nações europeias e dos Estados Unidos. Essa é a chave da diplomacia de Lula, mas também da tradição brasileira, avalia o geógrafo Hervé Théry, professor da Universidade de São Paulo.
“O Brasil continua a pedir com insistência um lugar no Conselho de Segurança da ONU, ainda que ele praticamente não tenha chances de conseguir. Isso faz parte de uma tentativa de se afirmar um pouco entre dois mundos: o Brasil tenta entrar no clube dos grandes, se candidatando, por exemplo, à OCDE, e também se apresenta como líder do grupo que antes chamávamos de Terceiro Mundo”, explica Théry.
Plano pode colocar Brasil no holofote da diplomacia
Para que o plano de Lula possa dar certo, é fundamental o apoio do governo chinês para a criação de um grupo de mediadores aceito tanto por Vladimir Putin, como por Volodymyr Zelensky.Ainda mais após declarações de Lula consideradas ambíguas. De um lado, o presidente brasileiro Lula diz que a Rússia não pode se apossar do território ucraniano, e de outro, sugere que a Ucrânia abra mão da Crimeia, área anexada pela Rússia em 2014. Sugestão rejeitada publicamente pelo presidente ucraniano.
Se apesar disso, o plano da criação de um grupo de mediadores seduzir Xi Jinping, uma “posição comum sino-brasileira poderia colocar na mesma mesa de discussão os diferentes atores do conflito, o que faria o Brasil se engrandecer diplomaticamente na cena internacional”, estima Louault.Em conversa com jornalistas durante a semana passada, o petista mostrou-se otimista ao responder a uma pergunta da imprensa. “Estou confiante que quando voltar da China e você me fizer essa pergunta (sobre a guerra), eu vou dizer que está criado o grupo que vai discutir a paz”, declarou.