O embaixador do Marrocos no Brasil, Nabil Adghoghi , assina artigo no qual relata como o seu país vem implementando a transição energética, inclusive no setor de fertilizantes. O Marrocos é um dos principais fornecedores mundiais da área, essencial para a segurança alimentar global.
Por Nabil Adghoghi*
O Marrocos desempenha um papel estratégico para a segurança alimentar mundial e se posiciona, hoje em dia, entre os principais produtores e exportadores de fertilizantes fosfatados do mundo.
Ao mesmo tempo, o país está concretizando sua transição energética com o aumento da participação das energias renováveis para 52% da matriz elétrica nacional até 2030, um posicionamento competitivo na economia descarbonizada e o desenvolvimento do hidrogênio verde.
No setor de fertilizantes, o Marrocos triplicou sua capacidade de produção entre 2008 e 2021, passando de 4 milhões de toneladas para 12 milhões de toneladas anuais, com um faturamento que passou de US$ 2,5 bilhões em 2005 para mais de US$ 13 bilhões em 2022.
Para o próximo período, o país está se adaptando às grandes transformações vividas pelo setor de fertilizantes no mundo, marcadas tanto pela priorização da agricultura sustentável e a centralidade da segurança alimentar na geopolítica mundial, quanto pelo surgimento de novas tecnologias industriais e digitais.
Para acelerar essa dinâmica, o grupo estatal OCP está lançando uma nova estratégia de crescimento, ao começar a produzir “fertilizantes verdes” adaptados às necessidades específicas de diferentes tipos solos e cultivos, contribuindo assim na revolução agrícola verde e na segurança alimentar global.
Nesse sentido, o programa 2023-2027 que o grupo OCP apresentou, no dia 3 de dezembro de 2022 perante Sua Majestade o Rei Mohammed VI, visa o aumento da produção de fertilizantes, a neutralidade carbônica antes de 2040, assim como a utilização de 100% de energias renováveis.
Com um investimento global de US$ 13 bilhões, esse novo programa permitirá o aumento da produção de fertilizantes de 12 milhões de toneladas para 20 milhões de toneladas em 2027 e alimentará a infraestrutura industrial do grupo com energia verde até 2027, principalmente com novas capacidades de dessalinização.
Ainda mais importante, esse investimento vai permitir que a OCP, hoje o maior importador mundial de amoníaco, “liberte-se” dessas importações através de investimentos no hidrogênio verde – amoníaco verde, o que permitirá que a empresa entre com força no mercado mundial dos fertilizantes verdes.
Finalmente, o componente P&D desse novo programa conta com vários centros de pesquisa criados dentro da Universidade Politécnica Mohammed VI, como o Green Energy Park (GEP), especializado em energias renováveis, e o Material Science, Energy and Nano-Engineering (MSN), especializado em componentes das baterias de fosfato de ferro e lítio, o Innov’X, bem como um data center, que hoje permitem ao grupo OCP colocar-se no centro das revoluções digitais na agricultura e de responder aos desafios da agricultura sustentável e segurança alimentar.
Em suma, a ambição do Marrocos de ser um líder mundial em matéria de fertilizantes se iguala ao compromisso do país na implementação de políticas públicas em matéria de transição energética, de economia verde e de baixo carbono.
Tal compromisso, implementado sob a liderança de Sua Majestade o Rei Mohammed VI, teve um impulso qualitativo desde 2016 quando o Marrocos sediou a COP22, oportunidade durante a qual o país lançou uma série de políticas públicas voluntárias em várias áreas ligadas à transição energética; a produção e o uso de hidrogênio verde sendo a mais recente e a mais emblemática dessas políticas públicas.
De fato, o Marrocos surge como um dos países melhor posicionados para a produção de hidrogênio verde, já que tem um abundante potencial de recursos energéticos através de vários investimentos em parques solares e pode se beneficiar de um negócio que deverá render entre 30 a 60 milhões de toneladas por ano até 2050.
O último ranking do Renewable Energy Country Attractiveness Index (RECAI), que avalia a atratividade do setor das energias renováveis pelo globo, colocou o Reino de Marrocos no primeiro lugar no mundo! Vários indicadores que mostram como o Marrocos pretendem fortalecer a sua liderança na segurança alimentar global, bem como emergir como um key player nas energias renováveis e na economia verde.
*Nabil Adghoghi é embaixador do Marrocos no Brasil