Prosecco é uma uva, vinho ou região?
Prosecco era o nome da variedade até 01/08/2009, quando foi criada a DOC Prosecco na Itália. A partir de então, a variedade passou a se chamar Glera e a Itália determinou que Prosecco seria todo e qualquer vinho produzido na região do Veneto e Friuli Venezia Giulta.
Hoje em dia, Prosecco/Glera é a variedade mais difundida no norte da Itália, cultivada numa área de 9,1 mil hectares, exclusivamente, para elaboração de Vinhos Espumantes Prosecco. Para se chegar à Denominação de Origem Controlada (DOC), os vitivinicultores da região registraram sua história com os primeiros limites demarcados da área de produção de Prosecco ainda em 1930 e depois redimensionada em 1969. Muita coisa mudou de lá para cá e hoje, em 2022, a classificação (em escala de qualidade) das áreas demarcadas está assim sub-dividida: Prosecco DOC, Prosecco DOC Treviso, Asolo Prosecco DOCG e Conegliano Valdobbiadene Prosecco DOCG. Essa última é a 44º DOCG da Itália e está dividida em Valdobbiadene Superiore di Cartizze DOCG, Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore Rive DOCG e Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore DOCG. Todas essas denominações juntas têm uma produção de 700 milhões de garrafas por ano de vinhos espumantes. Cada uma dessas garrafas é distinguida pela faixa dourada de onde é elaborada com o nome e o logotipo da denominação e, ainda, um número que a torna única e rastreável. Segundo a Agência Italiana de Notícias, o vinho espumante Prosecco é o mais consumido no mundo.
A diferença entre as Denominações de Origem Controlada-DOCs e Denominações de Origem Controlada e Garantida-DOGCs está na restrição que cada uma recebe, a regulação do rendimento das videiras, a quantidade de litros de vinhos produzidos por safra, o método de elaboração, a colheita (manual ou mecânica), entre outros.
Nessas regiões há grande investimento no enoturismo, como a “Strada Del Prosecco” com roteiros naturais, artísticos e arquitetônicos pelas vinícolas, criado pelo Consorziodi Tutela de Prosecco di Conegliano e Valdobbiadene. Por ser uma região de beleza inigualável, com suas colinas lindíssimas e charmosas pequenas cidades que têm importância história nas batalhas entre italianos e austríacos na Primeira Guerra mundial, em 2019, foi inscrita na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, que considerou a “beleza única da paisagem agrária composta pelas colinas com terraçeamento e bordas herbosas, uma forma histórica de cultivo das videiras”.
Além da Glera, outras variedades são autorizadas no corte do vinho espumante, mas só até 15%, e estas são Verdiso, Bianchetta Trevigiana, Glera lungo, Chardonnay, Pinot Bianco e Pinot Grigio e Pinot Noir. Sendo Pinot Noir a única variedade tinta, de suas cascas sai a colocação para o vinho espumante Prosecco Rosé.
Foi lançado recentemente o Prosecco Col Fondo, também conhecido por “Rifermentato in Bottiglia” onde a segunda fermentação acontece na garrafa e não em tanques de aço inox. É um vinho espumante turvo e essa turvidez é devido ao contato com as borras (leveduras mortas), já que não é feito a “dégorgement” (para tirar as borras). Tem menos “perlages” e sabor agradavelmente amargo, ácido e persistente dizem seus produtores.
O nome Prosecco foi citado pela primeira vez em 1754 por Valeriano Canati sob o pseudônimo de Aureliano Acanti no livro II Roccolo Ditirambo. Já o nome Glera tem outros sinônimos como, Števerjana (Eslovênia), Serpina (Colli Euganei) e Teran Bijeli (Croácia). Provavelmente, o nome Prosecco veio da Vila de Prosecco em Veneto (embora, historiadores afirma que nessa vila não havia a cultura da vinha). Glera é o nome que essa variedade era conhecida na Idade Média e antes disso, era conhecida por Pucinum mencionado por Plínio o Velho, no livro História Natural. Existem outros nomes como Prosecco Tondo, Prosecco Lungo e Prosecco Nostrano, mas todos com DNA diferentes. Na análise de DNA, Prosecco e Malvasia Bianca Lunga são pais da variedade Vitouska (uva branca natural da região de Karst na fronteira Ítalo-eslovena); em outro cruzamento, Prosecco com Cabernet Sauvignon são pais da Incrocio Manzoni, segundo Jancis Robinson no livro “Wine Grapes: A complete guide to 1.368 vine varieties”.
E o Brasil, elabora Prosecco? Sim!
Por estas bandas não existe nenhuma legislação específica que regulamenta a produção desse vinho espumante e pode ser elaborado, a critério do produtor, pelo método Tradicional ou Charmat, método Martinotti, como os italianos o conhecem, criado pelo Professor Federico Martinotti em 1895. Porém, nos rótulos nacionais observamos que todos os vinhos espumantes Prosecco são elaborados pelo método Charmat (em autoclaves), resultando em vinho espumante seco, fresco, com aromas de frutas e flores que o festivo povo brasileiro aprecia muito.
Mas não é DOC na Itália? Sim!
A legislação italiana determina a finalização do nome PROSECCO nos rótulos mundo afora até 2031. Mas, em Brasília, o representante de uma vinícola de Garibaldi/RS disse-me: “É Prosecco. Compramos da Itália as mudas da variedade com o nome Prosecco e anos depois eles mudaram o nome, mas nós vamos continuar envasando o nosso Prosecco.”
Fica uma questão: Desde 2009 Prosecco é uma área delimitada e até hoje as vinícolas brasileiras ainda rotulam o nome Prosecco!
E o serviço do vinho espumante Prosecco? Como todo vinho espumante deve ser servido a uma temperatura entre 6° e 8°C, e para degustá-lo use a taça de Prosecco que foi especialmente desenhada pela empresa Riedel Wine Glass Company, com haste longa, bojo em formato mais largo no centro e fechado na boca, design adequado para a percepção de todas as qualidades do Prosecco.
E com que harmoniza vinho espumante Prosecco? Com tudo!
Versátil tanto quanto os vinhos espumantes brasileiros Bruts. São uma carta na manga para qualquer harmonização pois sua refrescância e seus aromas florais são inebriantes e suas “perlages” limpam as papilas gustativas da gordura dos alimentos. E nossa indicação é para ser servido em momentos agradáveis, pois é um vinho de festa, de alegria e de descontração, especialmente em welcome dinks. O Vinho Espumante Prosecco ainda é base para vários coquetéis como Aperol Spritz, Mimosa, Bellini, Rossini e ainda o francês Kir (kir Royal só é servido com Champagne).
Um brinde com vinho espumante Prosecco!
@rachelalves.professoravinhos
Fotos: Internet