Em 2022 a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (ApexBrasil) comemora 25 anos mapeando oportunidades de investimentos estrangeiros no país e de vendas de para produtos brasileiros no exterior, promovendo parcerias históricas entre os setores público e privado. Neste período, a Agência ganhou destaque internacional por sua estratégia de atuação, além de expandir o atendimento a mais de 14 mil clientes por ano.
Em entrevista exclusiva à jornalista Liz Lobo, diretora da Agência Embassy de Comunicação, o presidente da ApexBrasil, Augusto Pestana, declara sua expectativa otimista em relação à expansão dos negócios do país com o mundo. “As exportações estão em ampla expansão, puxadas não apenas pelo aumento dos preços de certos produtos nos quais o Brasil é particularmente competitivo, mas também pelo rearranjo da demanda internacional, inclusive por produtos manufaturados e de maior valor agregado”, afirma.
Segundo Pestana, em 2022, o Brasil baterá pelo segundo ano consecutivo o recorde histórico de exportações, chegando ao patamar de US$ 300 bilhões. De janeiro a julho deste ano, as exportações da indústria de transformação alcançaram a marca dos US$ 103 bilhões, com crescimento de 31% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao mesmo tempo, a expectativa do mercado é de entrada de US$ 57 bilhões em Investimentos Estrangeiros Diretos, novo aumento de 23% em relação a 2021.
A estratégia focada em Inteligência de Mercados e Qualificação para Exportação são destaque na atuação da agência como promotora de tais negócios, segundo avaliação do presidente. E não há limites para as possibilidades. Dos alimentos e bebidas como castanha-do-pará, tapioca, açaí – produtos com “apelo Brasil” – às startups e até os games (cujas vendas aumentaram 600%) a participação brasileira no mercado internacional não para de crescer.
O arrefecimento da pandemia da covid-19 facilitou o trabalho presencial. E a Apex já retomou suas missões de inteligência em mercados de interesse para as empresas brasileiras, tais como Israel, Colômbia, Malásia, Tailândia, Estados Unidos, Canadá e Egito.
Embassy – Nestes 25 anos desde a criação da ApexBrasil, qual seria a principal conquista da agência na opinião do senhor?
Foram inúmeras as conquistas importantes da Agência neste quarto de século de existência, desde aquelas que reforçaram sua institucionalidade, sobretudo como uma grande e ágil parceria entre os setores público e privado, passando pelas ações e iniciativas que ganharam reconhecimento nacional e internacional, bem ilustrado pelos diversos prêmios em que figuramos entre as melhores “trade promotion organisations” ou “investment promotion agencies” do mundo. Mesmo com tantos pontos altos ao longo da nossa história, arriscaria dizer que a maior conquista está traduzida nos nossos resultados, no impacto positivo que causamos aos mais de 14 mil clientes que atendemos anualmente, por meio de um diálogo contínuo e profícuo com setor produtivo e uma relação estratégica com os principais órgãos governamentais ligados à nossa missão, com destaque para a estreita coordenação que mantemos com o Ministério das Relações Exteriores.
O amadurecimento e a qualidade da nossa entrega à sociedade é, portanto, o ponto para o qual eu daria maior destaque, deixando claro que estes aspectos estão alicerçados em conquistas fundamentais, a exemplo da nossa atuação focada em Inteligência de Mercados e Qualificação para Exportação, da ampliação da rede e do portfólio dos nossos escritórios no Brasil e no exterior, da estruturação de um conjunto estratégico de projetos voltados à captação de investimento estrangeiro para segmentos importantes da nossa economia, além da capacidade de gerir mais de 50 estratégias setoriais de internacionalização.
Embassy – Como o senhor avalia a promoção dos negócios brasileiros e a atração de investimentos estrangeiros?
São dois dos principais eixos de atuação da ApexBrasil. São atividades por meio das quais podemos ver o cenário de forma extremamente otimista e temos elementos da realidade para fortalecer essa perspectiva. As exportações estão em ampla expansão, puxadas não apenas pelo aumento dos preços de certos produtos nos quais o Brasil é particularmente competitivo, mas também pelo rearranjo da demanda internacional, inclusive por produtos manufaturados e de maior valor agregado. Estratégias de diversificação de fornecedores e mudanças na gestão dos estoques têm gerado boas oportunidades para vários dos setores apoiados pela ApexBrasil, com ótimos resultados no horizonte.
Em 2022, bateremos pelo segundo ano consecutivo o recorde histórico de exportações, chegando ao patamar de US$ 300 bilhões. Além dos valores exportados, destaca-se também a pauta exportada. De janeiro a julho deste ano, produtos da indústria de transformação representaram 53% do total exportado pelo Brasil, um aumento de participação de 4,5 pontos percentuais sobre os primeiros sete meses do ano passado. Os US$ 103 bilhões exportados da indústria da transformação neste ano representaram um aumento de 31% em relação ao mesmo período do ano passado.
No que tange aos investimentos, o panorama é igualmente positivo. O que mencionei sobre rearranjo das cadeias de suprimento tem efeito direto também sobre essa agenda de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), e temos mapeado diversas oportunidades que farão com que o Brasil esteja mais integrado às cadeias globais. De acordo com o Banco Central, em 2021 o Brasil recebeu US$ 46 bilhões em IED, um aumento de 23% em relação a 2020, auge da pandemia. Globalmente, o Brasil foi o sexto maior destino de IED em 2021, conforme a UNCTAD. Para 2022, a expectativa do mercado é de entrada de US$ 57 bilhões, ou seja, mais um aumento de 23%. A ampliação das exportações brasileiras e a contínua entrada de investimentos estrangeiros estão contribuindo para a projeção de crescimento de nossa economia neste ano.
Embassy – Entre os estudos desenvolvidos pela agência, quais o senhor citaria como mais importantes?
Continuamente elaboramos e publicamos estudos que atendam às necessidades das empresas brasileiras exportadoras e, ao mesmo tempo, despertem a atenção para oportunidades não óbvias no mercado internacional. Somente em 2021, foram mais de 20 publicações envolvendo diferentes setores e mercados, de frutas na China a móveis no Reino Unido, de máquinas agrícolas na Austrália a serviços de TI no Chile.
Neste ano de 2022 temos investido em três frentes de estudos: a primeira, contempla estudos de acesso a mercados recentemente abertos para produtos brasileiros do agronegócio, em parceria com o Itamaraty e o Ministério da Agricultura, a exemplo dos já publicados “Castanhas” e “Pescados”, ambos na Arábia Saudita, e “Maçãs”, no mercado da Colômbia – estão previstas dezenas de outros. Vale ressaltar que já vínhamos publicando estudos próprios nessa linha, anteriormente, contemplando vários grupos de países, para produtos como “Mel”, “Lácteos” e “Café.
A segunda frente envolve a retomada de missões de inteligência em mercados de interesse para as empresas brasileiras, após dois anos de restrições na mobilidade global, visando à elaboração de estudos mais aprofundados. Com este formato estão contemplados países como Israel, Colômbia, Malásia, Tailândia, Estados Unidos, Canadá e Egito.
A terceira frente envolve a abordagem transversal a aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável conectado às exportações e aos investimentos, que permeia vários estudos, mas que neste ano foi contemplada centralmente, por exemplo, no estudo “Alimentos e Bebidas da Amazônia Legal: Oportunidades e Apelos Globais”, que é um dos mais importantes já publicados pela ApexBrasil, em virtude da importância da região para esta agenda, e para que tenhamos cada vez mais clareza de que nossa biodiversidade deve ser encarada como parte da solução dos desafios globais.
Por fim, não posso deixar de citar os nossos Alertas, que são informes contínuos sobre as condições de acesso aos mercados para empresas brasileiras, com foco em questões regulatórias, tarifárias, não-tarifárias e de padrões privados – fundamentais para que as empresas brasileiras possam superar possíveis obstáculos ou aproveitar oportunidades a partir de ações tempestivas relacionadas a esses temas.
Embassy – As análises dos principais mercados internacionais e seus setores feitas pela Apex ajudam de que forma a classe empresarial brasileira?
Uma vez estruturadas para exportar, as empresas têm necessidade de tomar várias decisões estratégicas a partir de respostas a perguntas como “em quais mercados existem oportunidades?”, “entre os mercados com oportunidades, quais os mais aderentes ao porte e à maturidade exportadora da empresa?” ou, ainda, “quais são e como utilizar as características desses mercados a favor da empresa?”. Para auxiliar em decisões semelhantes, além das análises em profundidade que compõem os estudos, a ApexBrasil disponibiliza vários painéis de inteligência de mercado. Neles, é possível ter respostas a essas e outras questões.
Oferecemos três Mapas de Oportunidades, um global com visão mundo, outro com visão exclusiva para o mercado dos Estados Unidos e um terceiro com visão China. Todos eles se utilizam de metodologia e identificação de oportunidades desenvolvida pela ApexBrasil. Na visão global, é possível identificar as principais oportunidades para cada setor e produto em centenas de países e baixar informações detalhadas sobre cada um, incluindo dimensões de mercado e números comparativos de desempenho entre a oferta brasileira e a dos países concorrentes. Nos Mapas dos Estados Unidos e da China é possível fazer o mesmo, segmentando as oportunidades em nível subnacional por estado ou província, conforme o caso.
Esses Mapas vão além, ao classificarem cada oportunidade, de acordo com a metodologia ApexBrasil, em mercados de abertura, de consolidação, de manutenção ou de recuperação. Com essas classificações, as dimensões dos mercados e as estruturas concorrenciais, entre outras informações, é possível selecionar os targets mais em acordo com a estratégia, o porte e a maturidade exportadora da empresa. Acertar nessas decisões estratégicas iniciais é fundamental para economizar dinheiro e tempo, além de aumentar consideravelmente as chances de a empresa ser bem-sucedida na operação.
Destacaria ainda o Painel de Comércio, que facilita a análise do fluxo comercial quase em tempo real entre o Brasil e todos os países parceiros sob diversas óticas, entre outras: por estado brasileiro, por regiões e blocos econômicos do mundo, além de aspectos logísticos e de sazonalidades.
Embassy – Quais os produtos brasileiros mais atraem a comunidade internacional?
A lógica dessa atratividade muda, dependendo se estamos falando de commodities ou de produtos com diferenciação. Em relação ao primeiro caso, o preço e a escala são os principais fatores, embora não sejam os únicos. Quando falamos de produtos diferenciados, temos aí vários fatores que influenciam e o preço não é a única variável, pois aspectos como a tecnologia embarcada, o design, a marca, o apelo da sustentabilidade, a certificação, entre outros, têm papel fundamental.
Recentemente, na missão com foco em alimentos e bebidas que os analistas de Inteligência da ApexBrasil fizeram a Israel, por exemplo, foi possível constatar que produtos com “apelo Brasil” – como castanha-do-pará, tapioca, açaí – despertaram um grande interesse por parte das empresas israelenses entrevistadas. Não é novidade que produtos brasileiros como aviões, soluções para energia, soluções de mobilidade urbana e moda – para não ser extenso – são muito competitivos e desejados em inúmeros mercados. Para além dos produtos, os serviços brasileiros têm bastante destaque em áreas como games, tecnologia bancária e tecnologia aplicada ao agronegócio.
Embassy – Qual a importância das Startups para a Apex?
De 2015 para cá, o número de startups no Brasil mais do que triplicou, chegando a 13.700 empresas em 2022 e continua em crescimento. Estimamos que pelo menos 30% das startups brasileiras estão em estágio compatível com a implementação de um plano de internacionalização. É um perfil de empresa que tem grandes oportunidades ao olhar para fora, por isso a agenda é de grande importância para a ApexBrasil.
A Agência atua com startups brasileiras de forma estruturada desde 2017, com o objetivo de promover ou facilitar a inserção desse tipo de empresa no cenário internacional. Para isso, executamos iniciativas que promovem capacitações e conexões com possíveis parceiros, sejam eles compradores, investidores, aceleradoras, ou outros agentes de relevantes ecossistemas de inovação globais.
Desenvolvemos, em parceria com o MRE, ME, Sebrae e Anprotec, o programa StartOut, que realiza ciclos de capacitação e imersão de startups brasileiras em mercados de destaque nesse tema. Já foram realizados, desde 2018, 13 ciclos de imersão, em nove países, atendendo a 220 startups e com uma geração de US$ 16 milhões em negócios. Além disso, também organizamos a ida de startups a feiras de tecnologia e inovação e, neste ano, estamos capitaneando a maior participação brasileira no Web Summit em Lisboa, uma das mais relevantes conferências globais de tecnologia e inovação, onde teremos 60 startups brasileiras e um pavilhão de 225 metros quadrados.
As razões para o nosso apoio são inúmeras. O primeiro ponto tem a ver com o que está no cerne de uma startup, que é a inovação. Ao contribuir com o desenvolvimento das startups, contribuímos para aumentar o grau de inovação da economia brasileira e a inserção dessas inovações e tecnologias em todo o mundo. Além do impacto que isso tem em termos de desenvolvimento econômico e social, consideramos que é um fator importante para posicionarmos a imagem do Brasil no exterior como um país que desenvolve soluções inovadoras e úteis para pessoas e sociedades em todo o globo.
Temos percebido que as startups, por sua característica de oferecer soluções inovadoras e escaláveis, já nascem pensando no mercado internacional. Ou seja, boa parte delas já tem o objetivo de atuar internacionalmente, pois precisa crescer rapidamente e sabe que seus clientes podem estar em todo o mundo. Então, são empresas que estão naturalmente mais abertas e próximas do mercado internacional.
Por fim, o fato de geralmente a operação da startup ser menos pesada e custosa financeiramente do que a das empresas tradicionais, em especial para aquelas que oferecem soluções digitais, facilita um processo de atuação no exterior.
Embassy – É verdade que os games brasileiros ganharam o mundo?
Sim, é verdade, e neste campo a ApexBrasil tem tido uma participação pioneira e fundamental. Foi por meio de nossa parceria destacada com a Abragames que possibilitamos este salto com qualidade, já que fomentamos, em conjunto, um crescimento de 600% nas exportações do segmento desde 2012. Na indústria mundial de games, o Brasil consolida-se cada vez mais entre os protagonistas do jogo. Em 2020, o país exportou mais de US$ 53 milhões em games, com faturamento total de US$ 2,18 bilhões. Com o crescimento de usuários de jogos digitais em 2021, a expectativa é que os números sejam ainda maiores e que o segmento comece 2022 com alta de 5% em receita.
O Brazil Games, nosso projeto em parceria com a Abragames, existe há 10 anos com foco em capacitar empresas de todos os portes, desde grandes produtoras até estúdios independentes, para exportar seus produtos e serviços de forma segura. Além disso, busca garantir a participação de empresários brasileiros em eventos internacionais, para que o mundo enxergue o Brasil cada vez mais como um importante polo de inovação e desenvolvimento de jogos. Essa frente é ambiciosa e explora a vanguarda dos modelos de negócios, estamos também atentos para posicionar a indústria brasileira de games como polo global de desenvolvimento nas principais plataformas, explorando as diferentes representações da realidade, como realidade virtual, mista, estendida e aumentada.
Embassy – Como estão o intercâmbio de conhecimento com outros países, as missões brasileiras que visitam outras nações e as que vêm ao Brasil?
Trata-se de uma agenda em forte expansão no contexto do pós-pandemia e com múltiplos propósitos. Para além das missões prospectivas de inteligência que mencionei – cuja intenção é a de mapear oportunidades de investimentos estrangeiros e vendas de para produtos e serviços brasileiros no exterior –, neste ano de 2022, intensificamos o trabalho de conexão com congêneres de outros países com vistas a oferecer mais uma rede de apoio aos nossos clientes, além de colhermos as melhores ideias em termos de benchmarking internacional.
Afora esse trabalho de articulação constante, as missões compradoras (quando trazemos importadores ou potenciais importadores ao Brasil para conhecer o processo produtivo e negociar com as empresas brasileiras) e as missões vendedoras (quando organizamos visitas e rodadas de negócios no exterior), quando somadas, ultrapassam a casa da centena em bases anuais. A ApexBrasil e seus parceiros têm um trabalho contínuo de proporcionar esse match entre o que temos de melhor a ser exportado e a demanda internacional.
Embora tenhamos incorporado muitas adaptações e formatos digitais de ações ao portfólio durante o período mais restrito da pandemia, percebemos que agora é tempo de acelerar essa agenda, com a retomada dos eventos presenciais e de melhores condições de mobilidade. Cresce o interesse do mundo pelo Brasil, cresce o interesse dos nossos clientes por negócios internacionais, e a ApexBrasil reafirma sua disposição para seguir conectando esses pontos. E em tudo isso a Agência se pauta sempre pela lição contida no lema de Rio Branco e da diplomacia brasileira: “Ubique Patriae Memor”, em todos os lugares com a Pátria e o interesse nacional sempre na mente — e nas ações.