A República de Cabo Verde, um pequeno país situado ao largo da costa da África Ocidental, celebra hoje, dia 5 de Julho de 2020, o seu 45º aniversário como país independente. Aquando da independência nacional, conquistada de Portugal, em 1975, Cabo Verde era considerado, por muitos, como sendo um Estado inviável.
A falta de recursos minerais de potencial económico, o solo impróprio para a prática da agricultura, o que aliado à escassez de água vaticinava o mais que provável destino do pequeno Estado insular em construção. Contudo, o país e as suas gentes conseguiram contrariar o próprio destino.
Cabo Verde com os seus quatro mil Km2 de extensão conta hoje com uma população residente de menos de 600.000 pessoas, mas estima-se que a sua diáspora, residente sobretudo nos países europeus e nos Estados Unidos da América, ronde um milhão de cabo-verdianos. E a diáspora teve um papel fundamental na sustentabilidade e viabilidade do pequeno Estado.
Continua sendo um pequeno país sem recursos naturais apreciáveis. O seu único recurso real são as pessoas e a aposta no investimento no capital humano e fazer do nível de educação das suas gentes um factor importante da atracção do investimento externo, da competitividade do país e da produtividade da economia.
A história de Cabo Verde está intimamente ligada ao comércio transatlântico de escravos. Situado no eixo entre três continentes, Europa, África e América, todos os grandes navegadores da Era Expansionista Europeia passaram por Cabo Verde, Vasco da Gama, Colombo, Magalhães e Pedro Àlvares Cabral, onde aportaram para se abstecer de água e deixaram um traço da sua passagem.
Cabo Verde e o Brasil estão ligados por fortes vínculos históricos, culturais, geográficos e afetivos. Gostariamos de ressaltar aqui um aspecto do relacionamento com o Brasil que a história omite que é o fato de ter sido Cabo Verde o principal entreposto de escravos vindos para o Brasil.
A história, não menciona tampouco que os escravos após serem capturados nas costas africanas eram levados a Cabo Verde onde passavam por um processo de cristianização e eram treinados para o trabalho escravo antes de seguir para a América, bem como não menciona o fato de ter sido Cabo Verde uma estação experimental, de onde vieram vários produtos hoje populares no Brasil como milho, mandioca, cana de açúcar, coqueiros, arroz, inhame, e também as primeiras cabeças de gado.
Para além do Brasil, Cabo Verde partilha uma história comum de séculos com os PALOP, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nomeadamente Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Principe, com os quais partilha uma língua comum, herança da colonização portuguesa, e uma profícua concertação político-diplomática realizada não só no plano bilateral, como no plano da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) como em todas as instâncias internacionais de interesse comum.
Pequena nação insular, Cabo Verde baseia a sua política externa os princípios contidos na Carta das Nações Unidas, convicto de que o multilateralismo é a forma mais adequada para tratar as questões da Agenda Internacional. Cabo Verde defende e privilegia: a busca de consensos para a manutenção da Paz e da Segurança Internacionais; a promoção e a defesa do diálogo na resolução de conflitos; e, a defesa do direito internacional enquanto elementos indispensáveis ao progresso da Humanidade.
Cabo Verde, enquanto país pequeno e vulnerável, aposta o seu desenvolvimento estrategico numa economia sustentável e dinâmica, com um sector privado robusto e instituições reguladoras reforçadas; na construção de uma economia resiliente e alinhada com os objectivos da Agenda 2030.
Neste ano em que Cabo Verde comemora o seu 45º aniversário, a nação está consciente de que muitas são as tarefas estruturais com que ainda é confrontada , quer na construção da sua economia, quer no reforço das relações globais, bem como na criação de condições que permitam uma maior qualidade de vida para a sua população , num quadro de afirmação das liberdades e da democracia, augurando um clima de estabilidade política e social tão necessário ao desenvolvimento, à paz e à prosperidade do nosso continente.
Infelizmente, a pandemia do COVID 19, que a todos nos afecta e aflige neste momento, poderá vir a ser um grande obstáculo na consecução desses objectivos. Permito-me saudar de forma muito calorosa os emigrantes e estudantes cabo-verdianos que em vários cantos deste vasto Brasil ,no seu dia-a-dia, engradecem a Nação cabo-verdiana com o seu trabalho e o seu talento.
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