Assim que as chamas começaram a lamber o teto da catedral, presidente agiu como um estadista.
Sandra Cohen – G1
Mais do que lamentar, o presidente Emmanuel Macron foi incisivo diante do terrível incêndio que consumiu parte da catedral que se confunde com a história da França e nos últimos oito séculos se faz presente na política, na música e na literatura. “Juntos, nós vamos reconstruir a Notre-Dame.”
Macron tem graves problemas. Enfrenta o desgastante protesto dos chamados coletes amarelos, que se arrasta há quatro meses e fez sua popularidade diante dos franceses despencar para 23%, em dezembro passado. Pressionado pelas eleições europeias, no mês que vem, ganhou pequeno fôlego após mergulhar, nos últimos três meses, numa maratona de debates sobre a crise que permeia o governo de apenas dois anos.
Mas, assim que as chamas começaram a lamber o teto da catedral, agiu como um estadista, deixando para trás a imagem do presidente arrogante que colou nele durante o auge da onda de protestos.
Antes mesmo que perplexidade e a comoção golpeassem os franceses, Macron cancelou o discurso que faria à noite em cadeia nacional para anunciar novas medidas na economia. E rumou apressadamente para a catedral incendiada.
Joia da arquitetura medieval, monumento mais visitado da Europa, a Notre-Dame passou a ser a prioridade do presidente. Moto contínuo, lançou uma campanha para arrecadar fundos e reconstruir o símbolo de Paris, que registrou a coroação de Napoleão, a libertação das tropas nazistas, e habita o imaginário de 13 milhões de turistas que visitam a catedral a cada ano.
“É o epicentro de nossas vidas, o lugar onde vivemos os nossos maiores momentos, de guerras a pandemias e libertações”, resumiu.
O apelo de Macron surtiu efeito e uma rede de solidariedade se multiplica rapidamente. Enquanto o fogo ainda era debelado, os magnatas Fançois-Henri Pinault, presidente do grupo de luxo Kering, e Bernard Arnault, do conglomerado LVMH, somaram 300 milhões de euros em doações.
A Prefeitura de Paris desbloqueou fundos. Organizações como a Fundação Heritage e a Associação dos Amigos da Notre-Dame abriram sites para arrecadar fundos. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani , pediu aos deputados que doem a diária da segunda-feira fatídica à Notre-Dame.
A reconstrução da catedral incendiada, que já enfrentava um extenso processo de renovação, será longa e exaustiva. E Macron tem aí uma nova chance de capitanear o processo e recuperar a confiança dos franceses.