Feriando nacional, celebra-se hoje (24) o dia da bebida nacional
Por Rachel Alves Nariyoshi
Conhecido por seu vinho, o Malbec, por sua dança, o tango, por sua carne, o churrasco, a República Argentina é o segundo maior país da América do Sul com uma extensão territorial de 2.796.427 quilômetros quadrados, banhado pelo Oceano Atlântico e faz fronteira com Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
O nome “Argentina” (do latim argentum, que significa “prata”), foi usado pela primeira vez pelo poeta Miguel Del Barco Centenera (1535–1605) em seu poema histórico Argentina y la Conquista del Río de la Plata (“Argentina e a Conquista do Rio da Prata”), publicado em 1602.
Era habitada por querandis, quíchuas, charruas e guaranis até a chegada dos conquistadores espanhóis em 1516. E em 1776, a Argentina emergiu como o Estado sucessor do Vice-Reino do Rio da Prata, uma colônia espanhola. A declaração e a luta pela independência foi seguida por uma longa guerra civil, que terminou com a reorganização do país em uma federação de províncias que está independente desde 9 de julho de 1816. Com a independência, começou o afluxo de milhões de imigrantes europeus, tendo comprovado suas origens pelo DNA argentino, com 74,1% proveniente da Europa.
A Argentina abriga o ponto mais alto e também o mais baixo do Hemisfério Sul. O Monte Aconcágua com 6.962 metros que está localizado nos Andes Argentinos a pouco mais de 100km da cidade de Mendoza. No país também encontramos o oposto, sendo a Laguna del Carbon, localizada na província de Santa Cruz, o ponto mais baixo da América do Sul. São 105 metros abaixo do nível do mar.
País altamente urbanizado e uma das maiores economias da América do Sul tem classificação alta no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,842. Na América Latina, a Argentina possui o quinto maior PIB per capita nominal e a expectativa de vida é de 75,3 anos. Tem um índice de alfabetização de 97% e três em cada oito adultos acima de vinte anos completaram os estudos da escola secundária ou superior. A ida para a escola é obrigatória dos cinco aos dezessete anos e é gratuita do primário até a universidade.
A capital Buenos Aires é a cidade com mais livrarias do mundo, segundo World Cities Cultural Forum. Tem charme europeu, gente elegante e bonita, charmosos cafés, alta gastronomia pra todo lado, cinemas, teatros, shows, arte, tango, enfim, uma infinidade de atividades culturais com influências europeias. Destaca-se como o principal centro para os turistas estrangeiros que são atraídos por uma cidade cosmopolita e com ampla infraestrutura com estilo europeu na arquitetura e pela prevalência de pessoas de ascendência europeia.
Um pouco de história: Os europeus chegaram pela primeira vez à região com a viagem de Américo Vespúcio em 1502. Os navegadores espanhóis Juan Díaz de Solís visitou a região em 1516 e Sebastian Cabot em 1526. No século XVII, jesuítas espanhóis criam missões na Bacia do Prata, com o objetivo de catequizar os indígenas e protege-los de caçadores de escravos.
O rebanho bovino chegou à Argentina em 1556 e ao longo do tempo foram se multiplicando, graças aos amplos pastos da região dos Pampas. No século XVIII, a pecuária já era uma das bases da economia argentina. Em 2019, o quarto maior produtor de carne bovina do mundo, com uma produção de três milhões de toneladas (atrás apenas dos Estados Unidos, Brasil e China), além de estar entre os vinte maiores produtores do mundo de carne de frango, leite de vaca e ovos de galinhas. A exportação de gado é a que desempenha papel mais importante no comércio internacional.
Primeira mulher na presidência foi Maria Estela Martinez de Péron (conhecida como Isabelita Perón), vice-presidente do marido, o então presidente Juan Perón, que faleceu em 1974. Com a fatalidade, Isabelita Perón tornou-se a primeira mulher a ocupar a presidência de um país em todo o mundo. Entretanto, a primeira mulher eleita para a presidência da Argentina foi Cristina Kirchner, em 2007.
Ah o futebol! Dentre os grandes títulos internacionais da seleção nacional de futebol, estão três Copas do Mundo da FIFA (1978, 1986 e 2022). Mais de mil jogadores argentinos jogam no exterior, a maioria deles em campeonatos do futebol europeu. A Associação de Futebol Argentino (AFA), foi formada em 1893 é a oitava mais antiga associação de futebol do mundo, com mais de 3.500 clubes de futebol. E o rugby? Conhecida como “Los Pumas”, com muitos dos seus jogadores jogando na Europa. Outros esportes como o futsal, futebol de praia, basquetebol, tênis, polo e o boxe estão cada vez mais populares. E não podemos deixar de lembrar do inesquecível Juan Manuel Fangio que foi cinco vezes campeão mundial de Fórmula 1.
No turismo, é o país mais visitado da América do Sul. Em 2006, o turismo respondeu por 7,41% do PIB do país. Um dos atrativos é o tango. Um dos principais símbolos é o tango, patrimônio mundial conhecido em todo o mundo. Essa dança é uma manifestação artística, uma verdadeira marca dos argentinos desde 1930, imortalizado nas músicas de Carlos Gardel.
A Argentina tem três ganhadores do Prêmio Nobel em ciências (e dois ganhadores do Nobel da Paz). Domingo Liotta projetou e desenvolveu o primeiro coração artificial implantado com sucesso em um ser humano, em 1969. René Favaloro desenvolveu as técnicas e realizou a primeira cirurgia de ponte de safena do mundo e Bernardo Houssay descobriu o papel dos hormônios da hipófise na regulação da glicose em animais.
Na agricultura, a Argentina é um dos cinco maiores produtores mundiais de soja, milho, semente de girassol, limão, pêra e erva-mate, um dos dez maiores produtores mundiais de cevada, uva, alcachofra, tabaco e algodão e um dos quinze maiores produtores mundiais de trigo, cana-de-açúcar, sorgo e toranja.
Na gastronomia, além de muitos pratos de massas, salsichas e sobremesas europeias, os argentinos desfrutam de grande variedade de preparos indígenas e crioulas, incluindo empanadas (semelhantes ao pastel assado), que são repletas de sabor e muita carne. Sem dúvidas, elas são o prato mais tradicional na modalidade popular na Argentina. O país tem o maior consumo de carne vermelha do mundo, tradicionalmente preparado como “asado”, que consiste em carnes grelhadas numa parilla (churrasqueira grande). Ele é feito com vários tipos de carnes, muitas vezes incluindo a morcilla. Segundo o site brasilescola, assavam suas carnes muito perto do fogo em uma estrutura de metal no espeto, chamada de “asador”, e assim, nasceu essa modalidade tão apreciada. As sobremesas comuns incluem bolos, tortas, crepes e panquecas com doce de leite e alfajores. Aliás, o doce de leite é a base para muitas receitas. O hábito de beber vinho às refeições é incorporado à sua cultura alimentar, principalmente os descendentes europeus.
Mas aqui vamos falar de vinhos. O dia 24 de novembro é o “Dia Del Vino en Argentina”. É feriado nacional, o dia em que o Vinho foi declarado bebida nacional na Argentina pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV), passando a ser obrigatório o uso da expressão “Vinho Argentino. Bebida Nacional” nos rótulos de todos os vinhos. Esse dia 24 de novembro, marca, então, a declaração do governo de Cristina Kirchner de que o vinho passa a ser a bebida nacional, um “produto alimentar do consumidor, por suas qualidades nutricionais comprovados … integra a cesta familiar básica de diferentes grupos sociais, culturais e econômicas no país”.
O vinho é considerado o fator determinante do desenvolvimento do turismo, gastronomia e hospitalidade. Quando se fala em vinho x argentina, a primeira impressão é Malbec. Assim, Malbec é vinho tinto, símbolo nacional, tem qualidade e destaca por sua elegância, caráter vegetal, aveludado, com taninos suaves, aromas frutados e estilo próprio. É o vinho que harmoniza com o churrasco. Tudo a ver: Malbec e churrasco. Argentina é o quinto maior produtor de vinhos do mundo e exporta 25% de sua produção anual.
O vinho argentino, um dos melhores do mundo, é parte integrante do menu local (acompanhando a gastronomia) e é retratado sempre nos filmes. A uva Malbec, foi trazida da França para a Argentina no ano de 1953. Adaptou-se tão bem às terras argentinas, que o país chegou a ser considerado um dos principais produtores de Malbec do mundo. Argentina tem a uva Malbec como a emblemática e reservou o dia 17 de abril para homenageá-la com o “Malbec World Day“, dia definido pela Wines of Argentina desde o ano de 1993.
A Argentina é o maior consumidor de vinhos da América Latina (29 litros per capita/ano). Também nenhum outro país tem realizado uma evolução tão grande em tão curto período de tempo no que se refere à qualidade de seus vinhos. Desde 1990, o país tem cumprido um trajeto de desenvolvimento enológico que outras nações levaram séculos para chegar, segundo o Viotti, Eduardo. Coleção Folha – o mundo do vinho. São Paulo: Moderna, 2020.
Os números são impressionantes, mesmo em níveis internacionais. A superfície plantada de vinhedos é de aproximadamente 230.000 hectares de variedades que dão origem a vinhos da mais alta qualidade enológica, cuja produção é explorada por, aproximadamente, 1.341 vinícolas. São 59% de variedades tintas, 18% de variedades brancas e 23% de variedades rosadas, segundo Wines of Argentina. Com grande diversidade de terroirs, no geral, são cultivadas Malbec, Bonarda, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Chenin, Merlot, Pinot Noir, Semillón, Sauvignon Blanc, Syrah, Tempranillo, Torrontés, Viognier dentre outras tantas variedades viníferas. Não podemos deixar de falar das variedades Criollas (resultado do cruzamento de variedades europeias com as variedades autóctones da Argentina).
Com uma história vinícola rica e profundamente enraizada, o país apresenta diversidade de estilos e sabores que são únicos com produção de vinhos de alta qualidade. Em 1993 foi criado a Wines of Argentina para promover pelo mundo afora a marca e a imagem do país. A missão da Wines of Argentina é colaborar para a consolidação da Argentina entre os principais países exportadores de vinho.
É provavelmente o país em que mais investimentos externos é feito no setor vitivinícola. Grandes e emblemáticas vinícolas espanholas, francesas, portuguesas, norte-americanas e italianas, entre grupos de tantas outras nacionalidades investem em vinhedos nas terras argentinas.
A Argentina é um país enorme e de grande diversidade geográfica e climática. As regiões vinícolas argentinas têm como característica principal o uso da altitude como fator de especificação de microclimas. Novas fronteiras têm sido exploradas ao norte e ao sul, especialmente na Patagônia, onde, com recursos de incentivos do Estado, implantou-se polo vitivinícola supermoderno. A região de Mendoza é a maior produtora de vinhos, concentrando cerca de 80% da produção do vinho nacional, considerando as fortes conexões ancestrais com a cultura europeia com suas tradições, conhecimentos e história do vinho, que formaram a base da viticultura da região. É o maior produtor do mundo de vinho da variedade Malbec. Por conta disso, em 2012 foi declarada Wine Capital of Argentina.
Na média, os vinhedos são os mais altos do mundo com temperaturas médias entre 14 e 19 ºC. Mas o que há de tão especial na região de Mendoza para os vinhedos? Tem sol 300 dias/ano, calor durante o dia e frio à noite, água do degelo da Cordilheira dos Andes e altitude, que permitem bom amadurecimento e excelente qualidade sanitária das uvas a cada vindima.
Em 1541 chegaram as primeiras mudas viníferas europeias, vindo da Espanha, com destino ao Rio da Prata. Mais tarde, em 1554, com o início da colonização, missões jesuíticas começaram o cultivo de videiras em Santiago del Estero, necessárias à elaboração do vinho usado nos rituais cristãos católicos. Duas expressivas figuras espanholas históricas da vitivinicultura argentina, o sacerdote católico Juan Cidrón e o capitão Juan Jofré implantaram os primeiros vinhedos em Luján de Cuyo, parte sul da atual região produtora de Mendoza.
A legislação classifica os vinhos por origem, sendo a Indicación de Procedencia (IP) a mais básica e que indica a origem regional do vinho que podem ser elaborados a partir da variedade tinta de nome País. A segunda classificação é a Indicación Geográfica (IG) que é reservada aos vinhos das variedades europeias consideradas nobres. E depois vem a Denominación de Origen Controlada (DOC) que determina as castas que podem compor o vinho, o processo de vinificação, a graduação alcoólica mínima e a região delimitada onde as uvas foram colhidas.
As regiões argentinas, produtoras de vinhos são:
1-Norte: Jujuy, Salta, Tucumán e Catamarca;
2-Cuyo: La Rioja, San Juan e Mendoza;
3-Patagônia e Região Atlantica: La Pampa, Neuquén, Rio Negro, Chubut e Buenos Aires.
Cada uma das regiões produtoras de vinhos tem suas peculiaridades climáticas e geográficas próprias, evidenciando diversidades vinícolas vasta e rica. Desde os vinhedos de altitude no Norte, passando pela aridez de Cuyo e as planícies da Patagônia, até os novos projetos à beira do Atlântico, os vinhos argentinos oferecem ampla diversidade que refletem a identidade de cada região. Além disso, a combinação do clima favorável, a diversidade topográfica e a grande experiência dos viticultores argentinos propiciam ambiente ideal para a produção de vinhos de alta qualidade, com destaque especial para os vinhos tintos da variedade Malbec.
@rachelalves.professoravinhos